“Quem vence a si mesmo é um herói maior do que quem enfrenta mil batalhas contra muitos milhares de inimigos.” (Textos Budistas)
Grécia e Roma são considerados berços da civilização ocidental. Mas, estes mesmos povos foram também grandes antagonistas no passado. Seus embates se iniciaram com a ”Batalha de Heracleia”, travada em 280 A.C., iniciando a chamada “Guerra Pírrica. Sua motivação foi a tentativa das cidades-estado gregas em impedir a expansão da jovem República Romana pelo sul da Itália. Para conseguir impedir os romanos, elas pediram ajuda ao rei Pirro do Epiro, vindo dele o nome desta guerra. O conflito levou ao confronto de dois enormes contingentes. As legiões romanas contavam com aproximadamente 30.000 soldados, liderados por Públio Valério Levino. As forças gregas combinadas do Reino do Epiro e das cidades de Taranto, Túrios, Metaponto e Heracleia, somavam um total de 25.000 homens e 20 elefantes de guerra, comandados por Pirro, reconhecidamente um dos mais habilidosos generais da época. Ao final, quando soube das grandes perdas sofridas durante esta batalha e tendo sido felicitado pela vitória, Pirro teria respondido: “Outra vitória como esta e terei que retornar a Epiro sozinho”. Entre as perdas estava a maioria de seus experientes comandantes, alguns deles seus amigos pessoais, o que tornou ainda mais dramático o desfecho da batalha, apesar de sagrar-se vitorioso. A frase deu origem ao termo “Vitória Pírrica”, ou “Vitória de Pirro”, nome que passou a ser dado a uma vitória, que se consegue a um custo tão alto, que deixa o vencedor incapaz de prosseguir com seu objetivo. Quando me deparei com essa história, algumas décadas atrás, seu real significado não havia ficado completamente claro. Na verdade, sua essência só se mostrou completa ao longo da vida, quando pude perceber que uma vitória, em qualquer cenário, seja pessoal ou profissional, não pode ser buscada a qualquer preço. O fato é que qualquer que seja o seu objetivo pessoal, ele demandará de você, qual em uma guerra, recursos físicos, emocionais e, por vezes, financeiros e materiais, para que possa atingir o resultado desejado. Mesmo planos e estratégias serão traçados, por vezes, sem que você mesmo perceba. Napoleão disse que: “Existem, apenas, duas espécies de planos de batalha, os bons e os maus. Os bons, falham quase sempre, devido a circunstâncias imprevistas que fazem, muitas vezes, que os maus sejam bem sucedidos.” Por isso, é preciso estar, sempre, atento aos desdobramentos e consequências de suas ações. Por vezes temos de recuar, quando a situação poderia nos levar a um beco sem saída, ou a abrir mão daquilo que nos define. Nestas situações, dar um passo atrás, para poder dar dois à frente em um segundo momento. É uma outra forma de evitar o desperdício de valiosos e limitados recursos! Por quê falo disso hoje? Sinceramente, me incomoda sobremaneira a ideia contemporânea de que a competitividade deve ser levada ao mais alto grau, de forma contínua e sem exceções, como se ela fosse o único elemento determinante para o seu sucesso e, por consequência, de seu próprio futuro. O que a experiência de Pirro nos alerta é que uma vitória, a qualquer custo, pode efetivamente trazer um gosto amargo e esgotar nossa capacidade de prosperar no longo prazo, quando não sabemos administrar adequadamente todo o nosso capital humano. Sabedoria é, antes de mais nada, escolher que batalhas iremos lutar posto que podemos não dispor de recursos físicos e emocionais para lidar com todas elas. Mas não se iluda achando que pode se colocar completamente alheio às disputas, atravessando a vida sem lutas. Elas terão de ser travadas, bastando apenas administrá-las de forma assertiva. “Antes de entrar numa batalha, é preciso acreditar naquilo pelo qual se está lutando” (Chuang Tzu) É verdade que não existe uma receita sobre como proceder. Apesar disso, nessas horas sempre me vem à mente um pensamento do escritor irlandês Oscar Wilde, segundo o qual, “para alcançar a vitória, você deve colocar seu talento no trabalho e seu gênio na sua vida”, nunca o inverso.
Autoria: Maurício Martins
Autores citados: “Textos budistas”, Pirro, Napoleão, Chuang Tzu, Oscar Wilde