“Eu fiz a minha fantasia de vida mais poderosa do que a minha vida real. “ (Jeffrey Dahmer)
A ruptura de uma série de costumes e tradições, em grande parte fruto de um momento marcante do niilismo na filosofia, das novas escolas artísticas e literárias, importou também na perda de alguns valores ou, pelo menos, numa nítida flexibilização dos mesmos. Ferry cita esses fatos como o meio permissivo do surgimento de uma nova fase do capitalismo (capitalismo de consumo), ainda que as rupturas tivessem origem em movimentos considerados de esquerda. Um primeiro sinal desse novo modelo econômico foi um certo aumento do grau de exibicionismo e perda de pudor. Quando as pessoas passam a mostrar o que têm, elas começam a valer menos pelo que realmente são. Quem assistiu não esquecerá do filme “Mon Oncle”, de Jacques Tati, e as cenas envolvendo a demonstração da casa moderna com a fonte que se liga a cada soar da campainha, em um sinal de diferenciação pelo aspecto material. O ter é o que valoriza. Encontramos uma sociedade de demonstração social, onde o exterior, físico e existencial, está bem longe do interior fértil do indivíduo. Meu pai, quase parafraseando Gabriel Garcia Marquez, em Cem Anos de Solidão, dizia: “Eis que come sardinha, arrota caviar e finge que defeca orquídeas.” Esse tipo de comportamento permanece, e, talvez sem a eloquência de meu pai, eu também não o entenda. Por que alguém possui um carro (custo) mais caro que o local que habita (investimento)? E por vezes, apesar do carro tão caro, habita em locação (custo) e sem conforto interno, que permita definir o local como lar. OK! Cada um com seus valores e com a imagem que deseja demonstrar. “As pessoas ficam perturbadas, não pelas coisas, mas pela imagem que formam delas.” (Epicteto) Mas a questão parece ter se agravado mais com as redes sociais. Vamos fazer um teste? Olhe aquela pessoa que aparece a todo o tempo linda, feliz, dona da verdade, segura, profissionalmente bem sucedida na rede social. Aquilo é real? Acho que não! Quantas dessas pessoas nós conhecemos no mundo real e estão longe das personagens que criaram e das ilusões que transparecem nas redes? Lembrando Anaïs Nin: “A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros.” E nessa situação, onde há mais loucura que mentira, surgem figuras como aquela que não aceita ser chamado por cidadão, pois seria “engenheiro civil formado” – nova arma que usa para se impor contra terceiro – que talvez até lhe tenha melhor formação. O mundo humano é formado por oscilações, por diferenças! Ninguém é sempre feliz, ninguém faz sempre sucesso, … Mais do que isso, o mundo é mais que essa bipolaridade de bem e mal, branco e preto, feliz e triste, … Como as cores, o mundo e a vida são cheios de matizes e tons. Já não se vive a vida, mas um sonho ou ilusão, e, na lição de Michel de Montaigne, “abandonar a vida por um sonho é estimá-la exatamente por quanto ela vale.” O perigo não é só criar e viver tais personagens, mas também acreditar em quem os cria e os vive. Tiago Iorc na letra de ‘Desconstrução’ já dizia: ‘singularidades em ruínas’. Esses criadores de personagens sociais podem ser insanos ou mentirosos. Quem acredita neles tende a ser idólatra, pois lhe falta senso crítico. Há pessoas que têm uma capacidade de ficarem facilmente maravilhadas, seja por falta de senso, seja por preguiça, pois ao seguirem alguém não precisam direcionar suas vidas, e apenas imitam. Em qualquer desses casos há um afastamento do princípio filosófico do entendimento da essencialidade de suas existências, e, sem isso, não há vida boa. Não bastando isso, o indivíduo vive contradições e incongruências. “A imagem, o mito é uma coisa e o homem é outra. É muito difícil viver no dia a dia essa imagem, esse mito.” (Elvis Presley) Por isso, a cautela exige que atentemos mais para a conduta que para a imagem. A conduta, sim, demonstra os valores e princípios do indivíduo, de onde decorre seu caráter, que é seu único diferencial enquanto pessoa. Afinal, qual sua opção? Ser o você real? Ser uma caricatura? Preste bem atenção, o social foi feito para socializar e não para se vender o vazio. Se você busca ali um alimento para sua vida – CUIDADO!, pode encontrar um anzol preso na rede para te pescar e você virar o alimento.