SENSIBILIDADE
A SAUDADE………….
“Se não tenho amigos, não tenho nada.” (Billie Holiday)
Apenas os pássaros… e os pingos da chuva ecoam pelo ar! O céu é cinza, e o dia é frio! Tal qual os versos de Paulo Leminski (outubro/no teto passos pássaros/gotas de chuva). Comigo, a sensação é a mesma de um vaso ou de um jardim sem cores nem flores…. Absolutamente vazio! E a imobilidade dos pensamentos segue a cena cinza e nublada. Ao longe a música é nostálgica e embaralha estes pensamentos quase que engessados na distância destas cores… E, então, me vem a saudade destes dias claros e cheios de cores… flores… sabores… aromas. A fumaça do cigarro dança a valsa desta saudade! Os olhos ganham brilho e, logo em seguida, embaçam as lentes molhadas dos óculos que fitam o horizonte…. A música ainda é nostálgica… Billie Holiday! Ela chora em seu jazz e ouço os ruídos da antiga vitrola, quebrando o silêncio da saudade infinita, das palavras não ditas, do abraço esquecido… E do beijo perdido! O cinza vai se tingindo de negras nuvens e a tristeza, como tela, se pinta em nanquim e carvão! O chão molhado me lembra uma estrada de terra, onde a poeira foi apagada pelas lágrimas de uma partida… E nem mesmo o aroma desta poeira restou neste dia, quando a saudade grita alto e em bom som, dentro deste silêncio ensurdecedor da alma cansada de tanta saudade de você! “A saudade é o que faz as coisas pararem no Tempo.” (Mario Quintana)
………..O ENCONTRO…………..
“Éramos um só ser… Eu chamo isso de: estado agudo de felicidade.” (Clarice Lispector)
Silêncio…! O coração bate forte… a alma se faz inquietante… Breve sussurro da brisa acorda este silêncio! E a imensidão dos dias frios está a findar neste breve silêncio, onde só consigo ouvir o coração. Coração batendo forte em um compasso de espera, à sua espera… Quisera eu poder ser dono deste tempo! Quisera eu parar o tempo agora! E, nesta hora, dizer-lhe: “Venha logo! Me abrace! Me enlace e me deixe ser somente seu!” Neste silêncio ensurdecedor do pulsar de meu coração à sua espera – quando ouço músicas… sinfonias… o barulho do mar… o canto dos pássaros – a batuta do mestre silêncio a desenhar esta nova vida em sons e melodias de uma espera finita. Aqui, onde somente o coração explode em risos e lágrimas de felicidade por não ter mais que te esperar, silêncio! …. e ainda ouço o seu caminhar em minha direção, com passos breves, reticentes, cautelosos… Cheio de vontades e desejos… Ah!, este assombroso medo de se despetalar… qual as flores em dias de chuva e ventos fortes… Sorrio! Lhe vejo ao longe, mas tão perto e tão próximo que meu silêncio se quebra… Se esvaindo em passos breves, na minha direção, o barulho da tua alma, que também cansada deste silêncio assombroso reclama a batida forte do meu, do seu, dos nossos corações. Já não há mais em silêncio… pois acabam de se encontrar… “E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro.” (Rubem Alves)
…………………O TEMPO………………………..
“… mesmo um relógio parado consegue estar certo duas vezes por dia.”(Paulo Coelho)
Uma fração de segundo… um minuto… uma hora… O tempo é precioso demais! Quando não damos o devido valor a ele, … podemos, em um tempo próximo ou distante, saber o quanto poderíamos tê-lo aproveitado. Assim é a vida! Esta fração de segundo, onde nasce o sim, o não e o talvez… E cabe a nós termos a sensibilidade para decidirmos em que ponteiro deste relógio queremos despertar! O tic-tac … tic-tac … tic-tac pode ser confundido com as batidas do coração, com a respiração forte, … Esse mesmo som também é o desejo de se ter a sorte de acertar, de errar, … e tentar, sofrer e se alegrar! Só não podemos parar… Nosso tempo é agora! É hoje! É o presente momento! E este acaba em fração de segundos, de minutos ou, por sorte, em horas… Tudo pode vir a ser nada, mas, do nada podemos descobrir o quanto nos foi dado e o quanto desperdiçamos. Como declamou Van Dyke, em versos, o “tempo é muito lento para os que esperam”. Não nos importando com o tempo, este passa e avassala qualquer lembrança de um tempo que deixamos de viver, de sonhar, de nos fazermos presentes. Antes que o presente também se torne passado…
…………………………….FOLHAS SECAS DE UM OUTONO.
“Perdoa-me, folha seca, não posso cuidar de ti. (Cecília Meireles)
Folhas secas se misturam em meio a terra, buscando ali seu alimento para o eterno repousar. Folhas secas! O barulho causado pelos pés que as pisam é como canções que se perdem neste eco incessante de um verão que passou. Somos como folhas secas caídas neste momento maravilhoso da natureza. Quando do nada, começa a colorir a paisagem de amarelo, ocre, terracota, marrom,… Toda a natureza se pintando de cores e trazendo novos sabores, novos cantos, e… desejados encantos! Outono de amores! E vivo suas noites mais frias, e ao mesmo tempo aquecidas pela magia destes sabores, pelos encantos e cantos que nossos pés possam sentir e ouvir quando passamos pelos campos e jardins. E sentimos, em nossos pés, a beleza de uma estação que chega mansamente… magicamente, para nos lembrar que a vida é, assim, cheia de mudanças e que cada estação tem a sua beleza de ser e o poder de nos fazer sentir as maravilhas da natureza. Natureza que, entre cores e seus deliciosos sabores, nos traz este Outono de folhas secas, de luz tênue, de canções suaves, … Secas folhas que um dia – não tão distante – nos fizeram olhar para a natureza viva, e, assim como a vida, hoje nos fazem admirar o barulho de seu silêncio, quando pisamos em seus tapetes espalhados pelos campos e jardins. E mesmo em seus últimos instantes, o Outono nos dá de presente a mais bela paisagem em cores e sons. Folhas secas, folhas mortas! E como à vida, pouco importa ser outono, pois ontem vivemos o verão, o inverno, a primavera, pois, em outras estações, seremos novamente outono, para que nossas folhas secas possam cair e se misturar na terra novamente. E assim, trazendo a nossas almas seus novos sabores, sons e canções. Mas, repetidamente, buscando ali novos alimentos, para novas estações. Nas palavras de Camus: “Outono é outra primavera, cada folha uma flor”.
Autoria: Waldir José Machado
Autores citados: Cecília Meireles, Albert Camus, Paulo Coelho, Henry Van Dyke, Clarice Lispector, Rubem Alves, Billie Holiday, Paulo Leminski, Mário Quintana
Uma sensibilidade nas Palavras….Um sentir gostoso… ao ler cada linha, você consegue se imaginar vivendo os momentos, vivendo o Acontecido…Ahhhh Outono, tão lindo é vc. Parabéns!!!! Simplesmente lindo, tocante, emocionante.❤
Nosso colaborador, Waldir Jose Machado, tem o divino dom de transformar sentimentos em palavras. Por isso, o Projeto OmnisVersa tem o prazer de publicar seus textos, tendo escolhido ele para o início desse espaço literário denominado VERSANDO, e que tem lugar aos sábados, na busca de oferecer suavidade ao fim de semana dos nossos leitores. Obrigado por seu comentário, Camila. Nos acompanhe! Isso muito nos honra.