“Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança” (Hannah Arendt)
Na década de 60, um criminoso nazista, denominado Eichmann, foi capturado em seu esconderijo argentino e levado a julgamento em Israel. Arendt (pensadora alemã, autodefinida como apátrida, e que renegou a filosofia para se descrever como uma estudiosa da política) acompanhou o julgamento e desenvolveu sua teoria sobre a banalidade do mal. A defesa de Eichmann baseava-se no cumprimento de ordens superiores sem qualquer avaliação crítica pelo criminoso do que lhe mandavam fazer. Uma defesa simplista e um tanto repetitiva, principalmente nos dias de hoje, tanto que Lazlo Kovcs comenta que “não foi Eichmann quem cunhou a justificativa de que apenas cumpria ordens. Meus avós ouviram algo parecido, meus pais, meu vizinho, até meu cachorro deve ter ouvido. E não me consta que tenham ouvido isto sair da boca de um nazista”. Ou seja, a banalidade do mal envolve basicamente a capacidade de se fazer o mal e se justificar sob a alegação de que o malfeitor foi usado como ferramenta sem que exerça qualquer vontade ou pensar sobre o assunto. Um absurdo? Pense melhor! Se detenha a quantas situações destas ocorrem nos nossos ambientes familiares, de trabalho, sociais e mesmo religiosos. Se assustou? Pois é … Já nem sequer sabemos se a banalidade é da maldade (o malfeitor obtém alguma vantagem) ou da vilania (o malfeitor age somente pelo prazer de causar o mal a outrem). Mas, a justificativa não cola! Arendt diz que abdicar de pensar também é crime. Quando os malfeitores perdem o pudor de expor seus atos maléficos ou abertamente estimulam a prática de tais atos, a dita banalidade do mal está entre nós. E ela é praticada, por vezes, mesmo por pessoas que se fantasiam sob mantos de moralidade e/ou religiosidade. E o mais grave é o silêncio conivente. Nas palavras do admirável Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.” Essa conivência ou apatia transformam a banalidade do mal em algo “normal”, que mina conceitos básicos de moralidade, e finda com a esperança na Justiça. E aqui me atenho às palavras de Theodore Roosevelt para quem “a justiça não consiste em ser neutro entre o certo e o errado, mas em descobrir o certo e sustentá-lo, onde quer que ele se encontre, contra o errado”. Mas, hoje, vivemos assistindo ao sustentáculo do errado e as justificativas são as de sempre: “Todo mundo faz.”, “Eu não imaginava.”, “Se eu soubesse.”, … Na vida temos muitas alternativas para escolha (seguir um caminho ou outro, por exemplo), quando escolhemos uma já não temos mais as outras (escolhemos um caminho e já não podemos seguir o outro), e só podemos assumir as consequências dessa escolha (enfrentar os buracos do caminho escolhido e suas paisagens). Pensamento crítico é condição de viver. Simplificando? Você bebe e resolve dirigir – não opta por carona, uber ou táxi, e você atropela e mata alguém. Você fez uma escolha, que envolvia um risco, livremente assumido, e deve responder por homicídio. O pior, vejo pessoas e mais pessoas se enaltecendo por terem dirigido bêbadas após festas e muitas vezes se achando fantásticas por terem se livrado de acidentes que quase causaram. A irresponsabilidade virou heroísmo ou grandiosidade! Mais que direitos, a vida impõe obrigações e responsabilidades. Todavia, em uma sociedade onde o errado se sobrepõe, pela falta de pudor, ao certo, se torna “fácil” buscar isenção de responsabilidade e fuga da punição. Mentir, trair, ser desleal, falsear, simular, … são práticas comuns e justificadas, inclusive por quem, tendo autoridade cívica, deveria ser exemplo de boa conduta. E quando tais malfeitores são desmascarados nem ruborizam! Ao contrário, trazem o discurso do “usucapião do erro” (outros já fizeram a mesma coisa e não deu em nada para eles). A má-fé prepondera! Essa banalidade do mal justifica os discursos de ódio, os preconceitos, os crimes contra a honra de terceiros, as “fakenews”, … Dizem que a bondade é silenciosa e a maldade ruidosa. Ou seja, a maldade banalizada se expande como erva daninha em um canteiro e acaba por asfixiar as plantas cultivadas. Assim, se impõe a sociedade totalitária. Disse Jesus Cristo que: “no tempo da colheita direi aos ceifadores: arranquem primeiro o joio, e o amarrem em feixes para ser queimado. Depois recolham o trigo no meu celeiro!” Cada indivíduo bom precisa estar atento e agir, para que a maldade não seja banalizada e todos os bons não sucumbam por inércia e silêncio. É um tempo sombrio que exige colheita, ou seja, o resgate da moralidade (generosidade e amor ao próximo). “O mundo não poderá tomar um novo caminho se não conseguir uma união íntima da técnica e da moral.”(Theodor Plievier) Não é hora de violência, mas de mudança individual e confronto pelo exemplo. A mudança individual de todos permite o exemplo coletivo como meio de confronto ao mal e seus praticantes. “O que pensais, passais a ser.” (Mahatma Gandhi)
Autor: Fernando Sá
Autores citados: Hannah Arendt, Lazlo Kovcs, Martin Luther King, Theodore Roosevelt, Jesus Cristo, Theodor Plievier, Mahatma Gandhi
Fernando, você exclamou de forma esplêndida a incapacidade que as pessoas têm em avaliar suas omissões, suas ausências de auto critica!
O preconceito é a negação dos próprios erros !
Vivemos uma Sociedade que não sai da sua zona de conforto
A omissão de ajuda ao próximo, nos faz coniventes dos erros que são praticados
Todos têm direito à liberdade de pensamento , de escolher suas opções
A busca de Deus se revela nas nossas atitudes e aceitacoes
Nao vejo solução a médio prazo dessa evolução individual , infelizmente!
Fernando, você exclamou de forma esplêndida a incapacidade que as pessoas têm em avaliar suas omissões, suas ausências de auto critica!
O preconceito é a negação dos próprios erros !
Vivemos uma Sociedade que não sai da sua zona de conforto
A omissão de ajuda ao próximo, nos faz coniventes dos erros que são praticados
Todos têm direito à liberdade de pensamento , de escolher suas opções
A busca de Deus se revela nas nossas atitudes e aceitacoes
Nao vejo solução a médio prazo dessa evolução individual , infelizmente!