“Deus não me quer no céu agora e o Diabo ainda precisa de mim aqui embaixo”. (Raymond Redington personagem do seriado The Blacklist)
Sou assumidamente um “homem das exatas”, título concedido por amigos que consideram a matemática, a física e outras ciências naturais disciplinas ligadas a alguma seita satânica. Como tal, sempre fiquei fascinado sobre como a natureza é pródiga em produzir antíteses: quente e frio, preto e branco, os pólos magnéticos, prótons e elétrons, base e ácido, etc. Tem até um conto de Isaac Asimov, chamado “A última pergunta”, que trata de tema correlato. Naquele texto, diversos cientistas, ao longo dos tempos, avaliam o comportamento de uma propriedade do universo chamada Entropia, que, simplificadamente, depende de diferenças de energia como as que citei acima, acompanhando sua evolução ao longo da eternidade e as consequências do seu hipotético fim…, com uma pitada de ficção científica e leve ironia religiosa. Mas voltemos aos opostos. O fato é que eles existem por alguma razão. Eles são necessários para o perfeito funcionamento do universo. Dito de outra forma, não existe um sem o outro, e a existência de ambos é o que garante o fluxo de matéria e energia e, em última análise, o funcionamento do universo. Mas o que acontece se estendemos este conceito para as relações humanas? Claro está que não penso em uma abordagem estilística ou artística – tipo o que seria de Van Gogh se não fosse o amarelo – mas algo mais ligado ao plano comportamental: certo e errado, moral e imoral, bem e mal, etc. Questão filosófica relevante é tentar, por exemplo, definir o conceito do que é certo de forma absoluta, como fez Immanuel Kant, para quem este conceito é algo inato ao ser humano. Muitas vezes, iremos recorrer à oposição para definir este conceito, por exemplo, quando dizemos que é certo tudo aquilo que não é errado. Do ponto de vista prático, entendo que só faz sentido definir o que é certo se há uma opção em jogo que não o é (e a esta classificamos como “errado”). Podemos também considerar como o conceito de certo ou errado muda com o tempo. A escravidão já foi maciçamente encarada como algo correto. A matança desenfreada de espécies já foi inquestionável. Mas a ideia de que o certo existe porque existe o errado independe do tempo, assim como o bem existe porque existe o mal. Sendo assim, podemos inferir que o mal é eterno e que nunca poderemos nos livrar dele? Diria eu que essa é uma decorrência inerente e inflexível do fato de que temos escolhas. Para o filósofo Jean Paul Sartre, a única escolha que não temos é abdicar das escolhas. Sendo inevitável, portanto, que as escolhas sempre existirão, é bastante razoável depreender que o bem e o mal, o certo e o errado, sempre existirão e conviverão simultaneamente. Cabe a nós, usando a razão e toda a nossa bagagem, identificar a melhor escolha, sempre de olho em uma das máximas do grande dramaturgo Nelson Rodrigues, que declarou abertamente, e com toda a razão, que a unanimidade é burra.
Autoria: Maurício Martins
Autores citados: Isaac Asimov, Immanuel Kant, Jean Paul Sartre, Nelson Rodrigues
Pois é Claudio, esta reflexão sobre a ética e sua eventual flexibilidade é um tema palpitante. Acompenhe o site, em breve, voltaremos a discutir isso, bem como, a existência, ou não, da dicotomia entre moral e ética. Agradecemos seu comentário, nunca se furte a comentar os textos. Você e seus comentários são muito benvindos.
Escolhas significam viver. A partir delas se renunciam às alternativas e se assumem responsabilidades por suas consequências. Um estudo diz que fazemos por dia, insconscientemente, cerca de 35.000 escolhas/decisões.
Delícia de texto! Profundo, reflexivo, sem ser entediante ou pretensioso….Adorei!
Agradecemos pelo comentário, Marcia. As contribuições dos leitores são sempre esperadas com ansiedade.
Certo Ou Errado São Conceitos Alinhados a Ética, Que é Mutável, se Altera Com com O Passar do Tempo.
Pois é Claudio, esta reflexão sobre a ética e sua eventual flexibilidade é um tema palpitante. Acompenhe o site, em breve, voltaremos a discutir isso, bem como, a existência, ou não, da dicotomia entre moral e ética. Agradecemos seu comentário, nunca se furte a comentar os textos. Você e seus comentários são muito benvindos.
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Como já comentaram, o texto é Agradável de Ler. Mas eu Acrescentaria Mais uns opostos fundam e abrange: luz e trevas.
Concordamos, Ricardo. Esperamos você como um colaborador para nos ajudar, enquanto projeto, a garantir luz e afastar as trevas.
Maravilhoso Adorei a Leitura. Nunca Abrir Mão Das Escolhas👏👏👏👏
Escolhas significam viver. A partir delas se renunciam às alternativas e se assumem responsabilidades por suas consequências. Um estudo diz que fazemos por dia, insconscientemente, cerca de 35.000 escolhas/decisões.