Por vezes, você fica tanto tempo só, ou mal acompanhado, que se torna cético da possibilidade de novos encontros. Mas, se encontra repentinamente alguém especial, resta mais que a surpresa. Quando esse encontro representa o crescimento rápido de um sentimento, que já não acreditava provável nem possível, vem uma certa estupefação imobilizadora. A admiração e o gostar provocam um nível de contemplação que foge da sua racionalidade e do seu histórico. E aí? Não se trata de mera expectativa. Deflui uma angústia dessa afetividade. Não se fala aqui de idealização, mas de reconhecer a outra pessoa como ela é, e por isso admirá-la. Você quer agradar, mas, sobretudo, não quer desagradar. Se questiona sobre seu comportamento. Está sendo muito grudento ou, talvez, muito distante? Como saber o que efetivamente agradará a outra pessoa, ou não? Como resolver essa garganta seca pelo medo de falar ou esse aperto no coração que sufoca? Essa vontade constante de ouvir sua voz e ver o brilho dos seus olhos ou o reluzir de seu sorriso. Explicar isso à pessoa, talvez? Mas então resta uma incerteza de como será interpretado, visto ou entendido. Será você considerado fraco, piegas ou carente? Talvez a pessoa entenda seu encanto por ela. Essa é a melhor suposição, mas não uma certeza. Ficam os suspiros. E a coisa se complica mais no crescimento do desejo e da intimidade. Ser mais carinhoso ou mais selvagem? Todo aquele tesão e não saber como chegar e concretizar. Afinal, não é só uma transa. Qual a impressão que ficará se você chegar errado? Mas também, se não chega, pode parecer desinteressado. Que angústia lacerante! Seria tão bom se a outra pessoa entendesse tudo só no seu olhar. Quem dera fosse assim fácil. Você sonha que ela possa perceber que você foi tomado, conquistado, e está feliz por isso. Não se trata de ser, ou não sincero, mas de um medo do passo errado que possa trazer a perda. Luiz Felipe Pondé diz que: “por óbvio, não existe amor sem angústia”. Mas, o amor também propicia a possibilidade das descobertas de um novo mundo, de novas pessoas, de outras visões e entendimentos,… Heidegger e Sartre entendem, no existencialismo que os rege, o amor como sendo uma intencionalidade própria à uma consciência livre, o que traz com ele a angústia, ou seja, a afetividade fundamental que revela a completa falta de atributos categoriais da consciência. Seguem eles depois por caminhos distintos, mas reconhecem que a angústia é elemento intrínseco ao amor. O amor e a angústia estão entre esses mistérios inevitáveis da vida. Por isso a separação, se advém, se torna um processo de luto, ou seja, outro daqueles mistérios. Existe um liame natural entre amor, angústia e luto. Ah se tudo fosse fácil como gostaríamos! Fica a dúvida até de quando dizer gosto ou amo. Mas, apesar de toda a angústia, nesse momento, se é feliz quando você pensa na pessoa que encontrou.