O Som do Silêncio demonstra perfeitamente a árdua jornada em busca da sabedoria para distinguir o que está sob nosso controle, e o que se pede por falta de serenidade. O filme de estreia do diretor e roteirista Darius Mardernarra a virada repentina na vida de Ruben (Riz Ahmed) quando o baterista de heavy metal perde a audição. Incapacitado para exercer sua função na turnê ao lado da namorada Lou (Olivia Cooke), ele encontra um custoso tratamento médico, mas precisa aprender a lidar com sua nova realidade, enquanto junta dinheiro para a despesas. A angústia vai se apossando do personagem central. O Som do Silêncio é feito sob medida para a experiência das gerações Y e Z. O casal mora em um trailer, que viaja pelos Estados Unidos numa turnê por bares escuros, com refeições em restaurantes de beira de estrada, tentando juntar o “máximo de grana possível” com performances e venda de camisetas e álbuns. A impotência que Ruben sente quando sua condição médica avança é a de toda uma geração: sem empregos fixos, moradia ou dinheiro, ser “traído” pelo próprio corpo é o limite final que, quando cruzado, ainda traz uma gigantesca conta médica. Uma angústia coletiva das gerações modernas se apresenta. Traição é o que melhor descreve o que o personagem sente diante do próprio estado de saúde, o que desperta uma frustração capaz de fazê-lo machucar a si próprio e também àqueles que ama.