Nos dias de hoje, e principalmente após a pandemia do COVID, a vida é indubitavelmente uma mudança continua e visível, para a qual precisamos ser adequáveis. Pensar em comércio, forma de trabalho e meios de transporte na forma tradicional parece impossível. Mas também a atuação profissional, comportamento e relações interpessoais sofreram profundas mudanças. E nesse cenário, precisamos nos adequar e nos readequar com uma constância com a qual não estávamos acostumados. Isso importa em verdadeiras mudanças de identidade. São múltiplas identidades. Não falo aqui de bipolaridade ou de alterações de caráter, valores ou princípios. Estamos sim nos deparando com uma cada vez maior necessidade de inteligência emocional, que nos permita essas adequações de identidades exigidas pelo mundo novo. O grande problema se encontra no fato de que esta inteligência emocional faz com que você, sobretudo, se conheça; lembrando que o autoconhecimento é a verdadeira sabedoria. Mas em um mundo virtual, onde as soluções por aplicativos trouxeram uma certa preguiça intelectual, as pessoas passaram a adotar múltiplas identidades sugeridas com fins diversos. Elas buscam uma identidade para o FB, outra para o Instagram e quem sabe outras para o OnlyFans. O grave é que muitas dessas identidades não são representativas da realidade, mas sim do que as pessoas desejariam ser ou adequadas a aquilo que delas a sociedade esperaria pelos padrões vigentes. Por outro lado, aplicativos e redes sociais se tornaram as grandes ferramentas de marketing do capitalismo – capitalismo digital – em substituição às propagandas tradicionais de TV, rádio e mídia escrita. Portanto, as identidades acabam sendo ditadas por “influencers” duvidosos ou indicações comerciais diretas ou sub-reptícias. Recentemente nos deparamos com várias pessoas buscando uma identidade com a Barbie, em razão de um filme e todo o comércio de produtos que ele envolve ou vende. Tudo acaba em um mundo, que fala em diversidade quando todos tentam ser iguais com bocas de Angelina Jolie e coisas do tipo. Tudo muito incoerente e incongruente. Tudo líquido, superficial ou supérfluo como o mundo atual. Ocorre que as pessoas não percebem que há alto grau de volatilidade no momento. A fama é rápida, a tecnologia é rápida, assim como também o são desejos, sonhos, atualização de produtos, modismos, hábitos, … Assim, sem inteligência emocional, para criarem a partir de si múltiplas identidades, as pessoas estarão escravas das identidades que lhes serão ditadas pelos “influencers” ou marketing digital do novo capitalismo. Essa mudança rápida, em um mundo em que se acredita na felicidade eterna a partir das postagens em redes sociais, será o foco de grandes ansiedades e maiores frustrações, que se tornam perenes no dia a dia. Que bom para os terapeutas, mas um péssimo presságio para a sociedade. Veremos onde tudo isso vai dar, mas parece que os céus serão mais cinzentos que azuis.