A vida exige um total equilíbrio, que perpassa por todas as questões, sejam financeiras, parentais, amorosas, profissionais,… Anselm Grün trata disso brilhantemente em seu livro “A arte de encontrar a medida certa de viver”. O equilíbrio nos afasta dos extremos, dos antagonismos que a vida nos impõe. Você não deve ser covarde nem audacioso, a coragem é o equilíbrio. Da mesma forma, não se deve ser avaro, mas a caridade desarrazoada, que compromete o próprio sustento, é o outro extremo. Também na caridade se impõe equilíbrio. A completa abnegação é perigosa, pois se ela não ocorre no ambiente da mente saudável, ela pode se transformar no radicalismo. Essa é diferença que vemos quando analisamos as condutas de Irmã Dulce, Chico Xavier e Madre Teresa e as comparamos com as de algumas seitas e líderes, que descambam para o acúmulo financeiro ou mesmo para o crime. Muitos interpretam equivocadamente o texto da Bíblia, quando São Marcos (capítulo 12) e São Lucas (capitulo 21) nos contam da oferta da viúva pobre, que doa tudo o que tinha para seu sustento. Entendo o equívoco, pois creio que Jesus, naquele momento falava de comprometimento e não de caridade. A mulher compromete toda sua vida a Deus, representado na caixa de ofertas da Sinagoga. A caixa de ofertas não era o objeto de caridade, mas de “devoção”. Caridade tem a ver com o amor de Deus, ou seja, com o desejo de bem aos homens. O ato de oferecimento do Seu filho para resgate dos pecados de todos os homens é o maior ato de caridade. Quando vemos as diversas disposições bíblicas sobre caridade, em Provérbios, Salmos, Evangelistas e outros livros, tudo indica a caridade como repartição e não como renúncia absoluta. Portanto, também se deve ter equilíbrio nela, sendo então verdadeiramente uma virtude teológica. Entender diferente significaria aceitar muitas vezes um ato menos virtuoso por envolver certo exibicionismo e altivez, não tendo aqui melhores palavras a usar. Aliás, a caridade também não deve ser um meio de estímulo do ócio e da dependência. “O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade.” (Efésios 4:28) O caminho é a ajuda para a reversão da situação desfavorável e não o estabelecimento da dependência do benefício. Neste último caso também estaria perdido o equilíbrio que a vida exige. Faça caridade dentro de suas possibilidades, seja por oferta monetária, seja por gestos de amor, mas mantenha atenção ao equilíbrio. Esse é o real caminho para o bem.