Se existe consciência pesada, suja ou impura é porque certamente, pessoas que, apesar de agirem mal, detém consciência. A questão é que a consciência que deveria prevenir a prática da conduta errada, se torna o opressor de quem a praticou. Shakespeare dizia que “a suspeita sempre persegue a consciência culpada”, pois “o ladrão vê em cada sombra um policial”. A consciência deixa de ser a consultora para ser a juíza. Bem assim! E a culpa despertada pela consciência será um grilhão a ser carregado. A corrosão causada pela consciência pesada pode ter reflexos diversos. De acordo com o grau de culpa, a pessoa poderá ir da depressão ao suicídio. Nessa situação de grande dose de culpa, a pessoa se perde na busca de solução do seu tormento e dá fim a ele sem lhe importar ou avaliar que também envolve ele também representa o fim da sua vida. O suicida está preocupado com o fim do problema e não da vida. Mas essa culpa pode ser considerada como sinal de arrependimento? Creio que algumas vezes sim. A pessoa, se pudesse reveria ou não praticaria a conduta, que lhe ocasionou a culpa. Porém, às vezes, creio que não temos o arrependimento. A pessoa não se arrepende do que fez, mas por fazê-lo de forma delével. A preocupação está no risco da publicidade e da sanção e não no arrependimento pelo feito. Nesta situação ainda existiria consciência que traz culpa? Esse é um excelente ponto para reflexão. Segundo Nietzsche, “é mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação”. Será? Me questiono aqui, à luz da visão de Francis Bacon, para quem “a consciência é a estrutura das virtudes”. Como se percebe a consciência não é de exclusiva propriedade da Psicologia. Ela se arrasta a outros ramos do saber como a História e a Sociologia. Mas, efetivamente, a consciência é questão básica e inerente à Filosofia. Se pela filosofia o homem busca o entendimento de seu fim em si, como pode ele não estar consciente de si? A consciência de si contém tantas perguntas essenciais como as contém a Filosofia. Portanto, quando usamos da consciência como aconselhadora, estamos a questionar o certo e o errado, os reflexos do ato em nosso ser e nosso parecer ser, em nosso início e em nosso fim. Isso é filosofar. Por seu turno, quando estamos a validar o ato já praticado mediante nossa consciência, algumas dessas questões igualmente se impõem. “Não existe testemunha mais terrível – acusador mais poderoso – do que a consciência que habita em nós.” (Sófocles).