“A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta.” (Blaise Pascal)
Toda vez que falo de consciência lembro de um diálogo com um de meus compadres. Eu mencionava que não sabia como algumas pessoas dormiam com suas consciências pesadas. Meu compadre imediatamente retrucou que só tem consciência pesada quem tem consciência. Ele é assim, acerta sempre no ponto nevrálgico. Portanto, saber lidar com a consciência exige que a tenhamos. Mencken vai nos ensinar que “a consciência é aquela voz interior que nos adverte de que alguém pode estar a olhar”. A meu ver, a consciência tem tudo a ver com aquele controle que as pessoas normais têm a partir do medo do julgamento feito seja pelos outros, seja pelo Estado. A consciência trabalha para que controlemos nosso lado sádico e mal, permitindo um comportamento retilíneo e que permite um convívio social urbano e civilizado. Quintiliano já dizia que a “consciência vale por mil testemunhas”. Os sádicos e os maus não são dotados de consciência; nem limpa, nem pesada. E isso não os isenta de responsabilidade. Eles sabem, conhecem e assumem os riscos de seus atos, mas pouco lhes importa a pressão social ou legal. Isso não afasta a lição de John Wooden que devemos nos preocupar mais com nossa consciência do que com nossa reputação. Para ele “sua consciência é o que você é, e a sua reputação é o que os outros pensam de você”. Pessoalmente, entendo que só há preocupação com reputação quando se tem consciência. Você pretende ser bem visto ou quisto pois você tem consciência da importância disso, e para tanto age dentro de certos ditames. A quem falta consciência não existe preocupação com reputação. Mais das vezes, somente uma preocupação passageira com a imagem apresentada, até para enganar os outros. Não por outra razão, entendo que a quem falta moral também falta consciência. “A paz da consciência é o maior de todos os dons. Uma pessoa com a consciência limpa não tem motivos para temer os espectros.” (Lin Yutang) A consciência traz com ela um efetivo controle sobre risco que enfrentamos em nossas vidas. Falo isso de cadeira. Certa vez, tomando conhecimento de comportamentos irregulares, minha consciência não titubeou em determinar que eu os denunciasse. Anos à frente, quando tudo virou um escândalo, eu estava isento e continuava a dormir tranquilo de consciência limpa. A consciência fortaleceu minha determinação moral por fazer o certo. Ela garantiu convicção ao meu agir. Estranhamente, o tempo passou, e me deparei com uma frase de Paul Valéry: “Convicção – Palavra que permite pôr, com a consciência tranquila, o tom da força ao serviço da incerteza.”. A consciência é elemento primordial a comportamentos acertados. Quem a detém não é arrogante, esnobe ou petulante. Ela ajuda no desenvolvimento da sabedoria, em negar o desperdício, na busca do equilíbrio, na atuação empática, no respeito às diferenças, no encontro da real felicidade e da vida boa, … “Aquilo a que chamamos felicidade consiste na harmonia e na serenidade, na consciência de uma finalidade, numa orientação positiva, convencida e decidida do espírito, ou seja na paz da alma.” (Thomas Mann). Portanto, se você tem consciência, lide bem com ela. Não permita que ela lhe falte. Quando está presente? Sempre. Afinal, “a consciência é a voz da alma, as paixões são a voz do corpo” (Jean-Jacques Rousseau). Mas lembro aqui, caso não esteja seguro, que ela aparece mais nos momentos de solidão e reflexão. “A consciência é uma pequena lanterna que a solidão acende à noite.” (Madame de Staël).
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Blaise Pascal, H. L. Mencken, Quintiliano, John Wooden, Lin Yutang, Paul Valéry, Thomas Mann, Jean-Jacques Rousseau, Madame de Staël