Ela não era um raio de sol, mas todo um astro rei de um verão escaldante. E, assim, ela ofuscava os olhos daquele homem que a desejava mais do que qualquer coisa. Sua beleza, atitude e movimento excitavam-no. Ele empregou de todo seu carisma e charme para conquistá-la, em nome de uma felicidade comum e derradeira. E nessa relação, mais que tudo, ele precisava ter o domínio sobre ela, visando uma exclusividade e a mitigação do risco do avanço de outros também cegos por tamanha luminosidade. Para tanto, no seu jogo de manipulação, ele foi cerceando os desejos e vontades dela, assim como seus contatos, até que ela se anulasse e se tornasse mera seguidora das vontades e desejos dele. Ele nunca dizia diretamente, mas sub-repticiamente a conduzia à prática das vontades dele. Como em uma nevasca de inverno, o sol desapareceu. Ela se tornou uma nulidade do que fora e daquilo que ele dizia ter sido a razão de sua querência por ela. E nesse processo, ele sugou toda a autoestima dela, fazendo dela um objeto dos desígnios dele. Portanto, já não possuía ela aquilo que o encantara. Faltava a ela a atitude e o movimento que chamaram a atenção dele. Ela era somente mais um troféu da vitória de sua necessidade de domínio. O manipulador alcançara seu intento ao conquistar e dominar o sol e apagá-lo. Se fazia então o tempo de procurar novo sol, nova conquista. E ela restou ali, emocionalmente vencida, muitas vezes se sentindo culpada por não conseguir ser vista da mesma forma que no passado, ainda que obediente a todas as vontades dele. O ser dominado, sem desejo ou amor-próprio. Ela era a presa sucumbida ao caçador, que já partia para nova aventura. Chega um tempo em que o dominador se diverte com o ser dominado, mas necessita buscar novo objeto de domínio, para a manutenção do seu exercício de manipulação. Ela restava ali sem vida, sem rumo e sem ninguém, pois ele tirara tudo dela. Foi só então que ela entendeu que o amor conjunto depende do amor-próprio individual do par. Mas era tarde! Sem saber para onde seguir, a mulher agora frágil e débil se atirou ao vazio de um tempo desperdiçado e aparentemente infinito. Mas ela também percebeu, que tudo se deu com sua permissão pela falta de atitude. Ela era o sol sem calor, e ele o mesmo caçador em busca de outra presa.