“Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo”. (Oscar Wilde)
A temporada de Fórmula 1 de 1987 foi tensa até a última corrida, que coroou Nelson Piquet tricampeão da categoria, com a batida de Nigel Mansell durante os treinos de Suzuka, no Japão. Foi um embate não apenas nas pistas, mas também nos bastidores. Ambos eram grandes pilotos, mas Nelson Piquet dava um banho quando o assunto era falar mal de alguém. Durante o GP de Silverstone, Mansell foi interpelado sobre declarações de seu companheiro de equipe a seu respeito, ao que respondeu usando um ditado bem Britânico: “Se não posso falar bem de alguém, é melhor ficar calado”. Essa foi a primeira vez em que realmente refleti sobre o valor do silêncio. Não faltam referências históricas a este fato. Martin Luther King disse uma vez que “No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos”. O Marechal De Gaulle pensava que “Nada faz realçar mais a autoridade do que o silêncio, esplendor dos fortes e refúgio dos fracos”, e um provérbio árabe indica que “a palavra é prata, o silêncio é ouro”. Só isso já convenceria a maioria dos homens sensatos sobre a importância da quietude. Mas minha observação pessoal vai além disso. Em Eclesiastes, Capítulo 3, versículo 7, temos que “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu… Tempo de rasgar, e tempo de cozer; tempo de estar calado, e tempo de falar”. Neste caso temos uma medida de equilíbrio, em que não se deve radicalizar o comportamento, mas colocar a palavra ou o silêncio a serviço da razão. E é nesse sentido que resgato uma prosa registrada pelo filósofo Sócrates, intitulada “As três peneiras da sabedoria”. Certa vez, um rapaz procurou Sócrates e disse-lhe que precisava contar algo sobre alguém. Sócrates ergueu os olhos do livro que estava lendo e perguntou:
– O que você vai me contar já passou pelas três peneiras?
– Três peneiras? – indagou o rapaz.
– Sim! A primeira peneira é a Verdade. O que você quer me contar dos outros é um fato? Caso tenha ouvido falar, mas não tem certeza da sua veracidade, a coisa deve morrer aqui mesmo.
– Suponhamos que seja verdade. Deve, então, passar pela segunda peneira: a Bondade. O que você vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou destruir o caminho, a fama do próximo?
– Se o que você quer contar é verdade e é coisa boa, deverá passar ainda pela terceira peneira: a Necessidade. Convém contar? Resolve alguma coisa? Melhora a comunidade? Pode ajudar o planeta?
Arremata Sócrates:
– Se passou pelas três peneiras, conte! Tanto eu, como você iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo!
Em tempos de redes sociais apinhadas de meias verdades, o conselho de Sócrates é mais que oportuno. Também o Budismo aborda a questão, quando diz que falar é importante na medida em que permite a manifestação de seu Chi, mas lembra que é o silêncio que nos ajuda a perceber o universo ao redor, permitindo que ele nos aperfeiçoe e viabilizando nossa integração com o todo. E, sem dúvida, precisamos entender que aquilo que nos cerca não ficará melhor se aquilo que dizemos machuca ou magoa. Para fechar com chave de ouro, não poderia deixar de fora as palavras de Jesus Cristo: “o mal não é o que entra pela boca do homem, mas o que sai dela”. Pausa para meditação…
Autoria: Andre Rebouças e Silva
Autores citados: Oscar Wilde, Martin Luther King, Charles De Gaulle, Sócrates, Jesus Cristo