“A sorrir eu pretendo levar a vida… pois chorando eu vi a mocidade perdida.” (Cartola)
Dizem que nada mais inerente ao homem que o choro. Afinal, nascemos chorando. Mas Shakespeare justifica que “choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes”. Pode até ser! Também não se chora somente com lágrimas sendo vertidas. Existe um choro seco e silencioso, que por vezes é mais profundo e sentido que o choro perceptível pela visão. “… embora de olhos secos, o coração estava molhado; …” (Clarice Lispector). A definição fisiológica pode ficar prejudicada quando dita que o choro é um efeito fisiológico dos seres humanos que consiste na produção em grande quantidade de lágrimas dos olhos, geralmente quando estão em estado emocional alterado. A música popular brasileira nos ensinou que chorar espanta os males. Chorar é um ato próprio de demonstração de um sentimento, que pode ser dor, emoção, felicidade, medo, … Porém, todos tendem a vincular choro à tristeza. No passado, o próprio Shakespeare lembrava um certo provérbio pelo qual “chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras”. Mas o certo é que chorar não é sinal de fraqueza. Em momentos e tristeza, eu prefiro ser verdadeiro e chorar quando sinto que este é o caminho do alívio, ou não o fazer, quando de pouco valerá. E certamente não tenho como contê-lo, nos momentos de felicidade. Os autores de forma diversa tratam da questão justificando (“Eu chorei um oceano inteiro essa noite. Eu precisava esvaziar.” – Caio Fernando Abreu), ou não (“Apresso-me a rir de tudo, com medo de ser obrigado a chorar.” – Pierre Beaumarchais), a adoção do choro. Não restam dúvidas de que, principalmente no caso dos fatalistas, o choro é uma opção mais adequada ou cômoda. Mas no que ele agrega? Renard diz que “não é possível chorar e pensar ao mesmo tempo, pois cada pensamento absorve uma lágrima”. Será? E o mesmo valeria para os pessimistas, que passivamente se colocam à acomodação? Em caso afirmativo, estariam confirmadas as palavras de James Baldwin, para quem “as pessoas conseguem chorar muito mais facilmente do que elas conseguem mudar”? O choro também é atemporal. Chora-se pelo passado e pelo presente, e quiçá pelo futuro vislumbrado. Poeticamente, Drummond dizia: “um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar”. Dizem que não se deve chorar o leite derramado. Talvez, mas “chorar é diminuir a profundidade da dor“ ( Shakespeare) e cada um sabe sua dor, e o respectivo tempo, profundidade e reflexos dela. O choro tem outro aspecto interessante que é o reflexo nos terceiros que o assistem. Por vezes há comoção, empatia, dó, piedade; mas muitas vezes uma visão de fraqueza, desconfiança ou desconsideração e até de desprezo. O choro público gera julgamento – nem sempre justo. Gosto das palavras de Tumblr: “Dói quando vemos um amigo chorando porque conhecemos sua jornada, os caminhos pelo qual ele percorreu e as dores que suportou. Dói porque a gente aprende a dividir nossas vidas um com o outro. Dói porque cada lágrima que cai de seu olho é como um tapa que dão em nossa cara.”. Ou seja, inexiste piedade ou um julgamento depreciativo, pois sobra empatia. Na verdade, não se deveria julgar quem chora, seja na tristeza ou na felicidade. Chorar não tem nada de piegas, pois chorar demonstra humanidade.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Cartola, Shakespeare, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Pierre Beaumarchais , Jules Renard, James Baldwin, Carlos Drummond de Andrade, Tumblr