“É o tempo para verificar as estradas que estamos a percorrer, …” (Papa Francisco)
A Quaresma é operíodo (40 dias) que antecede a Páscoa. Páscoa era a comemoração do povo judeu quanto à sua libertação do Egito e, na comemoração se deua paixão e ressurreição de Jesus Cristo. O início da Quaresma ocorre na Quarta-feira de Cinzas e termina antes da Missa Lava-pés, na Quinta-feira Santa. Trata-se de um período para os cristãos dedicarem-se à reflexão e à conversão espiritual. A ideia estaria na recordação e reflexão sobre os 40 dias passados por Jesus no deserto e os sofrimentos que ele suportou na cruz. Mas eu diria que naqueles quarenta dias no deserto há tantos significados e figurações que muitos passam despercebidos mesmo aos cristãos devotos ou praticantes. Atenção a estes sinais permitiriam uma mudança de conduta, que efetivamente dirigiria as pessoas aos ensinamentos do filho de Deus. Poderíamos iniciar pelo encontro com a Samaritana, quando Jesus demonstra a quebra de preconceitos e um espírito livre para aceitação do diverso e repensar hábitos nem sempre justos ou morais. Também o sermão da montanha nos aponta para um belo ensinamento. Jesus sobe o monte pois, de cima, consegue ter uma maior e melhor visão do todo, ou seja, não devemos falar do que desconhecemos ou antes de buscarmos pleno entendimento do que falaremos. Jesus solicita emprestado um jumentinho, para sua entrada em Jerusalém: um animal simples em empréstimo. A majestade não está nas propriedades e posses e sim na conduta. Isso Jesus nos ensina nessa passagem. Aliás Jesus, na pobreza, sempre se valeu da caridade. Alguém emprestou uma manjedoura para que ele nascesse, da mesma forma Pedro lhe emprestou a barca, a sala da primeira eucaristia foi emprestada e, mesmo no sepultamento, o túmulo lhe foi um empréstimo. A entrada em Jerusalém, acompanhado de loas, elogios, saudações e ramos, à luz de sua paixão, nos lembra que muitos dos que nos agradam podem rapidamente nos crucificar. O beijo de Judas nos mostra como a traição pode estar sempre nos acompanhando sem que percebamos. E mesmo os amigos vacilam, tal qual como Pedro nas três negações. A força não impõe a verdade e por isso Jesus repreende Pedro com o uso da espada. O lamurio não afasta dias mais tristes que podem vir, como Ele indica às mulheres no martírio. O comportamento do mau ladrão demonstra que, por vezes, sequer há solidariedade na dor comum. E mesmo o maior de todos duvida, quando Ele pergunta a Deus sobre seu eventual abandono. São muitas lições que, se percebidas, refletidas e incorporadas facilitariam em muito lidar com nosso dia a dia e facilitar a vida de todos. Não se trata somente de ler, repetir, jejuar e ir a procissões. A Quaresma exige mais. Ela exige reflexão para ressurreição, ou seja, o encontro de um lado de nós que seja melhor, mais amoroso, caridoso e justo. “Apenas um raio de sol é suficiente para afastar várias sombras.” (São Francisco de Assis) Eis a única e verdadeira conversão, aquela que nos faz luz e afasta as trevas.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Papa Francisco, São Francisco de Assis