“Eis que temos aqui a Poesia,/a grande Poesia./…/ Ela flui, como um rio.” (Rachel de Queiroz)
Desde muito cedo, fui estimulado a ler. A leitura se incorporou e se intensificou como um hábito, que percorreu e prossegue em minha vida. Sempre amei as crônicas, os contos, os romances, a ficção, e, também, a poesia. Mas sempre percebi um certo preconceito em relação à última, como se fosse algo menor, piegas ou frugal. Doce ilusão! A poesia comporta tudo. Ela, na maioria das vezes, foi uma ferramenta de contestação e luta, e basta vermos a obra do abolicionista Castro Alves, do revolucionário Lorca ou da feminista Rapi Kaur. A poesia talvez seja a expressão mais livre dentro da literatura, que trabalha formas, ou não. Ela pode ser rimada ou livre até das regras de escrita. O primeiro poema de que me lembro é “As Meninas“ de Cecília Meireles. Poderiam dizer que seja deveras simples, mas, alí, a autora fala de algo tão receptivo e tão perdido na nossa sociedade individualista, arrogante e impessoal. Ela fala de “bom dia”. Por quantas pessoas você passa, ou encontra, e que o silêncio não comporta sequer um educado “bom dia”? Nas palavras de Cora Coralina: “Poeta não é somente o que escreve. É aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um verso.”. Há sempre um livro de poesia na cabeceira a me fazer refletir por suas páginas; livros que se somam em minha pequena biblioteca e mostram como em todos os idiomas, nações e culturas a poesia se fez elemento essencial. Em língua portuguesa como esquecer de Fernando Pessoa, Sophia Andresen, Vinicius de Moraes, Gullar, e tantos mestres. Ou em língua inglesa T.S.Eliot, Angelou, Shakespeare, Bukowski, …, que se somam aos franceses Prevert, Baudelaire, Rimbaud, … Lembro, então de uma resposta de Carlos Drummond de Andrade: “Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo.”. Eis o segredo! A poesia está contida em tudo. Não há vida sem poesia, pois faltaria alma. Para os islamitas alma e criatividade se confundem, sendo o que diferencia o homem. Poesia é alma criativa, leiamos Leminski. São tantos autores, que merecidamente são distinguidos com o termo poeta, que me sinto culpado por não citar todos, e, a cada segundo, em que aqui escrevo, um nome pulula em minha mente. Amo os malditos, os românticos, os beats, os eróticos, os revolucionários, os clássicos, os modernos, os contemporâneos; todos que fazem poesia como demonstração da complexidade e completude da vida. Os introduzo em minha vida e dou a esta novas cores. E cada vez que me encanto com um poeta, logo busco conhecer o máximo de sua obra ou adquirir antologias completas, como no caso de Poe, Mia Couto ou Florbela Espanca. E me dou ao direito de presentear amigos com livros de poesia, e fico feliz quando descubro que gerei mais um apaixonado por tal expressão literária. Busco a descoberta dos novos poetas, pois como versou Quintana: “Subnutrido de beleza, meu cachorro-poema vai farejando poesia em tudo, pois nunca se sabe quanto tesouro andará desperdiçado por aí… Quanto filhotinho de estrela atirado no lixo!”. O grande Machado de Assis se fez também poeta e muitos se esquecem desse seu lado. E tem até a poesia matemática de Millôr Fernandes, onde “às folhas tantas do livro matemático um Quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita”. Pois é, até matemática vira poesia, pois esta está em tudo. E não podemos esquecer a empatia poética de Rubem Alves e Manoel de Barros. Há um universo poético a descobrir e ler, para vivê-lo intensamente no dia a dia. Difícil terminar a seara representada por este texto, tanto quanto aquela cantada por João Cabral de Melo Neto. Mas o melhor é fazê-lo com versos: