“O que uns chamam de crise ecológica é consequência da ambição humana. Este é nosso triunfo e nossa derrota”.José Mujica (Ex presidente do Uruguai)
Se o Fábio Porchat me chamasse no “Que história é essa, Porchat?” e me fizesse a clássica pergunta sobre a minha memória de criança mais antiga, certamente eu relataria uma ida com meus pais e meu irmão a Praia da Bica, na Ilha do Governador. Naquela época, longe da sujeira que atualmente domina as praias da Baía de Guanabara, as praias insulanas eram bem frequentadas e adequadas ao banho de mar. Poucas décadas depois dessas peripécias infantis, voltei a me deparar com a degradação do meio ambiente, que era visível e olfativamente perceptível sempre que eu ia para a UFRJ, na Ilha do Fundão, no fim dos anos 80. O negócio estava feio, né? Mas acho que a ficha ambiental só caiu mesmo, para mim, quando inauguraram a linha vermelha, em 1992. Saudosistas cariocas dirão se tratar de obra de infraestrutura importantíssima… afinal, finalmente a Ilha do Governador teria outra saída além da Ponte Velha, das Barcas e do Aeroporto. Brincadeiras à parte, fato é que a via expressa foi parte do esforço brasileiro para a ECO-92. Segundo https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/eco92.htm “a ECO-92 ou Rio-92 foi uma das principais conferências ambientais do planeta. Ela foi realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), na cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 3 e 14 de junho de 1992. O principal objetivo da ECO-92 foi debater o cenário ambiental global. Essa conferência ambiental centralizou suas discussões no conceito de desenvolvimento sustentável, considerado inovador para o período em questão. A aliança entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental foi a premissa do evento, que contou com a participação de 179 países. O principal documento gerado pela ECO-92 foi a Agenda-21, conjunto de metas e estratégias definidas pelos países participantes para promover o desenvolvimento sustentável do planeta”. Foi a primeira vez que o mundo olhou para o próprio umbigo e se perguntou o que estamos fazendo com esta pequena bola azul chamada Terra. Mas estudos consistentes indicam que as mudanças climáticas, pior efeito ambiental causado pelo homem, começaram junto com a Revolução industrial, ainda no século XVIII, a partir do intenso uso de combustíveis fósseis. São quase duzentos anos abusando da paciência de nosso “planetinha” (diminutivo lisonjeiro, como Vinícius era o “Poetinha”). Gosto de pensar toda a relação com a Terra pela linha trazida pelo inglês James Lovelock, para quem a Terra era um Organismo vivo – A chamada hipótese de Gaia. Seus estudos concebiam um sistema que refletia um equilíbrio interrelacionado entre os seres vivos e o resto do planeta. Uma das mentes britânicas mais respeitadas do século passado, Lovelock teve especial atuação em outros segmentos ligados à ação do homem sobre o planeta. Constatou a possibilidade de aferir a concentração atmosférica de clorofluorcarbonos (CFC), os compostos que eram usados em equipamentos de refrigeração. Isso levou ao descobrimento do buraco na camada de ozônio e à proibição dos refrigerantes CFC em 1987. Ele também concebeu um dispositivo para medir a propagação de compostos tóxicos criados por humanos na natureza, o que sedimentou suas teorias sobre a ação humana sobre o planeta. Suas mais importantes descobertas ocorreram quando atuava na Agência Espacial Americana (NASA). Ao comparar a Terra a Marte, fazia-se a pergunta: “Porque conseguimos estabilizar a atmosfera e Marte não”? Ele considerou que, diferentemente de Marte, algo deveria estar regulando o calor, o oxigênio, o nitrogênio e outros componentes essenciais. “A vida na superfície é o que deve estar fazendo a regulação”, escreveu com a microbióloga americana Lynn Margulis, que colaborou com seu estudo sobre a Hipótese Gaia. O fato é que sua teoria ainda hoje gera discussões. Mas acredito nela. E do jeito que as coisas vão, daqui a pouco Gaia pode se cansar de nós e, qual organismo que combate uma doença, acabará nos rejeitando. Pelo menos poderíamos ser um parasita um pouco mais inteligente… afinal de contas, parasitas tentam não matar seu hospedeiro.