Meus amigos costumam me acusar de possuir boa memória. Não a nego. Tenho memórias de infância relacionadas ao clima. Lembro dos ventos de agosto por ser tempo de empinar pipas e papagaios, o que as crianças virtuais de hoje já não conhecem. Havia os invernos frios, em que tentava burlar meus pais ao colocar o uniforme de escola sobre as calças flaneladas do pijama. Os invernos também garantiam chocolate quente enquanto se assistia a famosa “sessão da tarde”, onde víamos filmes antigos de outra Hollywood. Teve aquele inverno de 1979, onde o telhado da casa sumiu sob o resultado de uma forte geada noturna. Por morar em uma cidade de clima ameno, no verão ela superlotava com turistas e veranistas foragidos do calor do Rio de Janeiro. As primaveras amenas de céu límpido tinham por cenário ipês amarelos floridos. O clima das estações marcava a disponibilidade de alimentos sazonais. Se você gostava de um determinado alimento, tinha de esperar a época própria. As chuvas traziam o cheiro de terra e um avassalador crescimento verdejante na vegetação. Muito mudou. Se positivo o acesso à maioria dos produtos durante todo o ano, as chuvas intensificadas, e agravadas pelo acúmulo de lixo e crescimento não planejado da cidade, se transformaram em frequentes calamidades. Estiagens afetando o fornecimento de água à população. Os invernos já não têm dias tão frios. O calor aumentou na proporção da poluição que fez opacos os então céus límpidos primaveris. Os verões são senegaleses e desagradáveis. Não se trata de saudosismo, mas de constatar as mudanças climáticas que não afetam teoricamente o mundo, mas nossas vidas, nosso dia a dia. De formas diferentes por região, as mudanças climáticas têm deteriorado os ambientes e a condição de vida humana. As mudanças climáticas são, em grande parte, o fruto de ações humanas associadas ao aumento, por vezes descontrolado, da emissão de gases de efeito estufa por queima de combustíveis fósseis, queimadas, desmatamento e outras atividades danosas. Portanto, ninguém pode se esquivar de sua responsabilidade individual, ainda que parcial, ainda que mínima, com as consequências adversas que sofremos. Ao contrário do que se pensa, esse problema e riscos envolvidos não são recentes; não se trata de modismo. Teofrasto (372 a.C. — 287 a.C.), na Grécia antiga, documentou que a atividade humana era capaz de influenciar no clima. Em 1896, o físico sueco Svante Arrhenius identificou como o dióxido de carbono (CO2) importava no aumento da temperatura terrestre. A ele devemos a expressão “efeito estufa”. No final dos anos 50, Charles Keeling iniciou a medição das concentrações de CO2 na atmosfera no Polo Sul e no Havaí. As medições foram reveladoras. O aumento de 1ºC gera efeitos climáticos cada vez mais graves como secas mais prolongadas, eventos extremos, queimadas fora de controle e temperaturas recorde em diversas regiões. Para frear o aquecimento global e limitar o efeito das mudanças climáticas, a ONU, mediante o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), busca limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC e evitar que ultrapasse 2ºC até o final do século, em comparação com os níveis pré-industriais. Esses são os objetivos estipulados no Acordo de Paris. Hoje, a temperatura do planeta está 1ºC mais quente em comparação a níveis pré-industriais. Muito tem que ser feito, mas a principal reflexão é como, individual e coletivamente, cada um pode ajudar sua casa Terra nessa luta.