“… lado penoso da submissão: fazer o que nos repugna.” (Sêneca)
Muitas vezes, cremos, erroneamente, que a submissão é sempre uma escolha. Essa percepção que podemos ver desde Cícero (“Ninguém tem a obrigação de obedecer àquele que não tem o direito de mandar.”) talvez mereça sensível revisão. Não nego que devemos sempre rejeitar a submissão, seja ela qual for. Charles Bukowski, em sua poesia, levou isso a verso: ”A tua vida é a tua vida/ Não a deixes ser dividida em submissão fria…” E também assim se posiciona Simone de Beauvoir (“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.”). Creio efetivamente que há submissões voluntárias, ou seja, que decorrem de uma opção do submisso. Para essa hipótese concordo com Sartre, quando diz que detesta as vítimas, “quando elas respeitam os seus carrascos”. Mas essa seria a exceção? Na verdade, a submissão, na maioria das vezes sempre decorreu do poder econômico, psicológico ou da força física, quando não por uma conjugação de todos eles. A escravidão foi um exemplo de uma conjugação plena desses três poderes. Mas, hoje, creio que há uma outra forma de submissão, que decorre de interesses diversos e que poderíamos denominar submissão social. Há padrões sendo estabelecidos e as pessoas a eles se submetem sem qualquer senso crítico. Caso típico temos nos chamados “influencers”. Se faz atual a ideia desenvolvida por Ludwig von Mises de que a “a humanidade precisa, antes de tudo, se libertar da submissão a slogans absurdos e voltar a confiar na sensatez da razão”. Quando se imagina uma sociedade direcionada pelas redes sociais recheadas de “fake news” nos deparamos com a submissão das pessoas à mentira sem qualquer preocupação, compromisso ou busca da verdade. Vale, portanto, citar Paul Brunton, de ‘que “não sejamos desleais ao bem que está em nós por uma submissão covarde ao mal que está na sociedade”. O mero silêncio frente a maldade já faz com que haja submissão. Temos uma prova histórica disso ao estudarmos na II Guerra Mundial, o estabelecimento da França de Vichy, ou seja, o estado francês,liderado pelo Marechal Philippe Pétain, submisso a Hitler. E naquela situação, a resistência francesa se impôs, cabendo a Charles de Gaulle declarar: “Não fazer nada, é ser vencido.”. No Brasil recente, essa situação analogamente se repetiu com a aceitação, quando não pelo apoio, ao discurso de ódio estabelecido. Uma conduta que sofreu verdadeira normose pela ferramenta das redes sociais. William Shakespeare falou sobre as muitas vezes em que “a simples visão de meios para fazer o mal faz com que o mal seja feito”. “O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.” (Albert Einstein) E, como sempre a maldade, se vale de todos os artifícios, ainda que hipocritamente. A maldade não tem vergonha ou constrangimento em fingir fundamentar-se em Deus, na família ou na moralidade. Assistimos pessoas de pouco espírito cristão, com famílias arruinadas e práticas de duvidosa moral, se valendo de tais elementos para justificar o ódio que espalham, estimulam e praticam. Aceitar como normal essa prática de ódio, ainda que seja pelo silêncio, significa uma submissão social à maldade. Portanto, precisamos atenção ao que nos submetemos, não há lugar para omissão. Esteja sempre atento.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Sêneca, Cícero, Charles Bukowski, Simone de Beauvoir, Sartre, Ludwig von Mises, Paul Brunton, William Shakespeare, Albert Einstein