A maior maluquice que hoje vejo está na falta de diapasão de certos discursos com os comportamentos de seus detentores. Frequentemente, ouço pessoas falarem sobre o quanto são livres, ou lutam para sê-lo, visando serem ou se tornarem diferentes. A liberdade sonhada seria o fim do arquétipo do padrão ou do normal, traria um diferencial que faria da pessoa única. Pois bem, nunca vi as pessoas tão deliberadamente e voluntariamente escravas, na forma de seus comportamentos, como hoje. Um exemplo inicial seria a moda. As pessoas não estão só presas a estilos, mas elas, principalmente, se submetem às logomarcas. Às vezes, falta o estilo, e elas são meros “outdoors”, desfilando logomarcas em camisetas básicas, mas crendo terem algum diferencial com isso. A prisão da moda deixou os vestidos e calças para alcançar cuecas e meias. Tudo bem uniformizado e nada de surpreendente, ou seja, zero diferencial. No campo estético, há outra escravidão opcional, com lipoaspirações, bottox, procedimentos faciais e corporais diversos, branqueamento dentário, tatuagens definitivas, exercícios padronizados, assim como anabolizantes, para gerarem corpos idênticos e rostos multiplicados. Os lábios de Angelina Jolie se espalham, algumas vezes com sucesso e outras em reveses deformados. Pois é, quando dá errado … Os cortes de cabelo, as unhas e cílios postiços, … Um exército de supostos diferenciados iguais. Andando pela rua, próximo ao trabalho, me deparei com um rapaz afro-brasileiro empunhando um belíssimo corte afro. Ele sim era um diferencial dentre um “bando” de loiros e ruivos de salão. Lembrando outra passagem, fui com amigos ao teatro, em um bairro carioca tido por descolado; não posso negar que foi uma experiência de avaliação comportamental. Ao tempo em que os papos, na fila de entrada e na saída, versavam sobre liberdade de ser diferente, todos pareciam ter saído de uma máquina de replicadores. Bem verdade que, em alguns casos, a máquina deve ter tido defeito. Mas a coisa não para aí. Vejam as festas, onde a subsequente tenta ser maior, mais sofisticada ou diferenciada da anterior, mas respeitado um padrão comum e sempre baseado em um glamour velho e vencido desde, pelo menos, o fim do absolutismo. Não importa se falamos de festas de debutantes, casamentos, chás de bebês, ou essa coisa duvidosa apelidada de chá de revelação. Interessante que, mesmo os casais homoafetivos aderiram a essa onda dos casamentos tradicionais e grandiosos. Outro dia, assisti na TV uma pessoa dizer que ele e o namorado só estarão sobre igualdade de tratamento quando puderem se casar na Candelária. O mais interessante é que, logo depois, informou que sequer são católicos. Agora, o diferencial da festa pode ser só a baixaria, a degradação, a promiscuidade; a orgia romana parece moderna, pois você a chama de “farofa”. Vejo que todos têm que viajar para os mesmos lugares, fazer os mesmos passeios, ir a determinados restaurantes, boates e lounges, morar em determinados bairros, e possuir determinados veículos. Portanto, não esqueça que de um jeito ou de outro você precisa daquele óculos de sol, aquela armação ocular, aquele relógio, …, que irão diferenciar você, ainda que todos os estejam usando também – alguns até falsos. E se você não atender a esse padrão, se escravizando, você é o fruto podre e de pouca aceitabilidade social. Não estou nem aí. Até determinadas drogas se tornaram “in”e “out”, definindo se você é um doidão diferenciado, ou não. As pessoas pedem e alegam lutar por liberdade, quando voluntariamente se escravizam a marcas, estilos, padrões, comportamentos e até gastos. Entretanto, o engraçado é que se acreditam diferenciadas, quando formam um exército tomado pela normose e padronização. Tudo o que não são? Diferenciadas, únicas, especiais, diferentes, diversas, … Um mundo louco de discursos e posturas contraditórias, onde falta capacidade de visão real sobre o resultado final. O mais grave: tudo muito chato!