A maioria dos homens vive uma existência de tranquilo desespero. (Henry David Thoreau)
Se é verdade que a Teoria do Mínimo Existencial tem um caráter jurídico de base político-sociológica, não podemos deixar de ver a existência também sob um cunho filosófico. Nas palavras de Fiódor Dostoiévski, “o segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive”. Portanto, podemos ver que a existência se comporia do “viver digno” – envolvendo o mínimo existencial e o mínimo vital – e do “saber para que se vive”. Parece supérfluo falar de filosofia, quando se vive em um lugar em que falta a tantos o mínimo existencial e, muitas vezes, o mínimo vital. Todavia, saber para que se vive pode ajudar a trazer a empatia, a consideração, princípios e valores morais e éticos, que façam mais pessoas tentarem reverter a condição daqueles a quem falta o mínimo existencial. Empatia, consideração, princípios e valores morais e éticos para com o próximo são sinal de amor. “Nascemos para amar. O amor é o princípio da existência e o seu único fim.” (Benjamin Disraeli) A filosofia é exatamente a busca do entendimento da perenidade do homem por si mesmo. Quando o homem busca o entendimento de sua perenidade por um terceiro (geralmente uma divindade), temos a teologia. Mas, ainda, ou principalmente, no campo da teologia, podemos lembrar do amor ágape pregado por Jesus, que junto com a misericórdia e a justiça, formam o tripé do ensinamento de Cristo. Ou seja, voltamos ao amor, à empatia, à consideração, aos princípios e valores morais e éticos. Somente um governante dotado de tais adjetivos trabalhará verdadeiramente para o mínimo existencial de todos. Não que ele consiga gerar satisfação e felicidade amplas e eternas, vista a temporalidade própria de tais sentimentos. Afinal, como ensina Hugo Hofmannsthal: “O presente é em absoluto a face dolorosa da existência – mas é apenas algo de provisório.”. Também precisamos entender que não é tudo somente papel do Estado, pois somos seres gregários em coletividade. Saber para que se vive, não envolve simplesmente estar pronto para morrer, mas, sobretudo, como viver melhor, como ter a vida boa, durante esse período curto em que existimos. Epicuro já dizia isso, em priscas eras, ao ensinar que “a morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais”. Geralmente, aquele que busca o entendimento do saber viver em razão da morte se volta mais à teologia que à filosofia. Saber viver presume também o entendimento da interdependência dos homens enquanto animais gregários, e, por isso, voltamos, uma vez mais, ao amor, à empatia, à consideração, aos princípios e valores morais e éticos. “Os problemas nunca vão desaparecer, mesmo na mais bela existência. Problemas existem para serem resolvidos, e não para perturbar-nos.” (Augusto Cury) A grande questão é que quando você não se torna parte da solução, você se torna parte do problema. Portanto, se pergunte: “Eu sou parte da solução ou do problema da falta do mínimo existencial do meu próximo?” “Eu vivo para trazer satisfação à coletividade, o que refletirá positivamente em minha existência, ou eu vivo para mim, esquecendo do reflexo, eventualmente ruim, do entorno na minha existência?” A situação existente, e que por vezes lhe é prejudicial, encontra razão no reflexo de algo que você prefere ignorar. Tudo é causa e efeito. Nada do que nos acontece deixou de ter uma causa, sendo o efeito. O perigo é que, por vezes, o que nos aconteceu vira uma causa duvidosa com efeitos ainda mais danosos. Somente o saber para que se vive e a atuação a partir desse saber interrompe os ciclos das causas e efeitos danosos em espiral crescente. A vida é uma arte, que alcança a beleza estética maior pelo saber para que se vive e atuar pelo senso de coletividade (amor ágape). “Só o amor e a arte tornam a existência tolerável.” (W. Somerset Maugham)