“A gratidão é, literalmente, uma das poucas coisas que podem imensuravelmente mudar a vida das pessoas.” (Robert Emmons)
O termo gratidão tem sido muito utilizado, nos dias atuais, e, por vezes, com significados distintos de sua real representação, ou mesmo como uma forma de cumprimento. Gratidão é o reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor, ou seja, um agradecimento. Portanto, a gratidão exige alguns requisitos: a ação de auxílio ou benefício (pela pessoa a quem se é grato) e uma consciência do benefício ou auxílio (por quem é agradecido). Shakespeare dizia que a “gratidão é o único tesouro dos humildes”. Tendo a concordar. Vejam aquelas pessoas, no Brasil, que por vezes recebem um saco de feijão ou obtêm uma consulta médica pública mediante um favor político (geralmente políticos profissionais em campanha de reeleição) e, apesar de estarem recebendo algo que lhe seria naturalmente devido, votam naquele duvidoso indivíduo como sinal de gratidão. A gratidão não é uma virtude dos inteligentes ou dos ricos, mas sim daqueles, como lembrava Esopo, que possuem almas nobres. Bem verdade! Na medida em que a gratidão afasta a arrogância de se achar auto suficiente, ela não deve ser desmedida. A gratidão por si só exige equilíbrio, já que, nas palavras de Jean de la Bruyere, ela comporta no mundo o mais belo exagero. A gratidão também não pode ser o foco daquele que auxilia, pois estaria descaracterizando seu ato de benevolência em uma troca. São Mateus vai lembrar: “mas, quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita …” O ato benévolo nunca pode estar caracterizado pela espera de retorno. Por isso, por vezes, você eticamente ajudará alguém sem se envaidecer disso, mas não terá gratidão expressa, pois o auxiliado não terá consciência pelo agraciado do auxílio obtido ou de quem o fez. A gratidão, tantas vezes, se ratea; então genérica. Aquele que recebe uma cesta básica de uma organização beneficente será grato a quem o auxiliou, mas sem poder determinar quem o fez, visto que tal auxílio veio por um intermediário. Todavia, a gratidão não pode ser uma moeda de cobiça pelo agradecido, que passa a se comportar pelo assistencialismo. “A gratidão da maioria dos homens não passa de um desejo secreto de receber maiores favores.” (François La Rochefoucauld) Os homens de bem são gratos mesmo pelos auxílios obtidos mediante pagamento, mas onde se demonstrou compromisso, dedicação, profissionalismo, … Quando, por seu turno, falamos de ingratidão, ela será clara somente quando havendo consciência do auxílio não houver reconhecimento seja determinado (auxiliador conhecido) ou genérico. A gratidão faz prova de caráter, pois “quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida” (Sêneca), mas ela também demonstra sabedoria, já que é um fruto que “não se encontra entre gente vulgar” (Samuel Johnson). Mas a ingratidão, por vezes começa em casa; Balzac nos lembra que “a gratidão é uma dívida que os filhos nem sempre aceitam no inventário”. Você pode apontar mil razões para as situações “justificadoras” da ingratidão, mas tendo a concordar com Flaubert de que “aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter”. Conhecemos milhões de casos de ingratidão, mas somos capazes de reconhecer nossas escorregadas nesse campo das virtudes? Afinal, “os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso, e a vingança, um prazer” (Tácito). Precisamos ser gratos sempre. Quantas vezes o fato difícil, com o tempo, não se mostra benéfico? Ser grato de forma generalizada e individualizada, conforme o caso, mas sempre. Isso, sobretudo, tendo a gratidão como um sentimento puro e gratuito. ”Não cobres tributos de gratidão.” (Chico Xavier ).
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Robert Emmons, Shakespeare, Esopo, Jean de la Bruyère, São Mateus, François La Rochefoucauld, Sêneca, Samuel Johnson, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Tácito, Chico Xavier.
Fernando,”Só posso lhe dizer que sou muito “grato” pelos teus lindos textos.
Obrigado a você também, Waldir, pelo carinho e contribuições igualmente muito valiosas