“O esquecimento é mais sublime que o perdão.” (Thomas Carlyle)
Luc Ferry leciona que o desenvolvimento do cristianismo tem uma grande relação com a ideia de sempre perdoar, incondicionalmente, o erro do outro. Uma religião com menos punição ao pecado acaba sendo mais atraente. Não faltam pensadores a considerarem o perdão um ato de grandiosidade ou, opostamente, o considerarem uma possibilidade de justificativa ao erro e sua repetição a posterior. Na primeira linha, temos Gandhi (“O fraco jamais perdoa: o perdão é uma das características do forte.”), Shakespeare (“Nada encoraja tanto ao pecador como o perdão.”) e Friedrich Schiller (“A mais alta das vitórias é o perdão.”), enquanto, na segunda, lembramos de Ambrose Bierce (“Pedir perdão é assentar o terreno para futuras ofensas.”), Nelson Rodrigues (“Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.”) e Mario Quintana (A indulgência é a maneira mais polida de desprezar alguém.”). Entende-se por que, tantas vezes, ouvimos que foi dado perdão pelo ato, que nem por isso será esquecido. Existe perdão sem esquecimento? “Na falta de perdão, abre-te ao esquecimento.” (Alfred de Musset) Ou seria o esquecimento algo de outra ordem? Jorge Luiz Borges dizia que “o esquecimento é a única vingança e o único perdão”. Pense em situações pessoais suas; você realmente perdoou quando ainda não esqueceu o que lhe foi feito? Benjamin Franklin indicava que “o esquecimento mata as injúrias”, enquanto a vingança multiplica-as. Não por outra razão, junto com “guardar um segredo” e “aproveitar o tempo”, ele colocava o perdão como um dos três atos mais difíceis ao homem. Ressalte-se que, diferentemente, Baltasar Gracián y Morales, supunha que “não há maior vingança do que o esquecimento”. Mas, por que algumas vezes perdoamos e esquecemos e, em outras, não esquecemos ou sequer perdoamos? “Perdoa-se na medida em que se ama.” (François La Rochefoucauld). Geralmente, há mais generosidade a quem se ama; se é mais condescendente com quem se ama. Mas isso não seria um sinal de “dois pesos e duas medidas” – perdôo um ato de alguém que amo, mas não perdôo o mesmo ato de quem não prezo? Se assim o é, se perde o conceito do perdão divino e cristão, pois ele, como cita Augusto Cury, é sublime e incondicional e fundamentado no amor e na compreensão. Talvez, então, o perdão cristão exija sempre um amor ágape, que parece uma grande utopia. Mas, mesmo antes de Cristo, Sócrates ensinava que “só quem entende a beleza do perdão pode julgar seus semelhantes”. Não se trata de uma seara fácil, pois ela envolve angústia, dor, ofensa, perdas, injustiças, … Quando Martin Luther King fala de perdão, nitidamente, ele fala de esquecimento para que haja reinício, o que parece em diapasão com Machado de Assis, para quem o esquecimento é uma necessidade, e sem o qual não continua o destino escrito e reescrito na lousa da vida. E quando não nos perdoamos por não conseguimos perdoar nem esquecer? Rubem Alves está certo ao afirmar que “o esquecimento, frequentemente, é uma graça”. Tudo muito confuso? Não daria para ser diferente. Importante trabalhar cada ato, cada mágoa, cada dor, cada culpa. Só assim teremos uma situação menos perversa, onde estaremos mais próximos do equilíbrio. E com ele traçaremos o caminho da vida boa!