Antônio estava longe de ter a beleza e físico da maioria dos galãs americanos, mas para Carina – sua esposa – ele não deixava nada a desejar em relação a eles. Portanto, Carina acreditava que toda e qualquer mulher estava pronta a tentar roubar-lhe Antônio. Não importa onde as mulheres estariam olhando e desejando Antônio. Qualquer gesto educado, por mais descompromissado ou usual que fosse, representava uma tentativa de aproximação ou cantada a Antônio, pelos olhos de Carina. Ela chegava a ouvir tons sedutores nas vozes ao se dirigirem a Antônio. Esse processo de ciúmes só crescia. Uma obsessão descontrolada. Cada vez que Carina percebia essas tentativas, na maioria imaginárias, sobre Antônio, ela era dominada por dor, raiva, medo. Antônio se negava a reconhecer aquilo que Carina via e questionava sua imaginação, gerando ciúmes infundados. Isso era o bastante para Carina se entregar a tristeza, se sentir humilhada e adentrar um processo de autocomiseração. No início, por se sentir culpada e se inferiorizar na comparação com a eventual rival, Carina sofria por vezes calada e por outras pontuando a situação a Antônio, que frequentemente desdenhava dos ciúmes da esposa. Mas o tempo fez com que Carina passasse a culpar Antônio pelas insinuações recebidas, como se ele estimulasse tais assédios por outras mulheres. Então, a esposa passou a reações física violentas e agressivas, e não se pense que falamos apenas de ataques verbais. Certa vez, no supermercado, Carina resolveu que a caixa flertava com Antônio e, impulsivamente, agrediu a trabalhadora com uma vassoura que estava no carrinho de compras. Os repentes tresloucados de Carina só cresciam. Em uma viagem de Antônio a trabalho, Carina, no meio da madrugada, apareceu na cidade de destino, e de forma arruaceira se colocou a esmurrar a porta do quarto onde estava hospedado o marido. Acreditava que ali estava ele com outra mulher, quando na verdade dividia o quarto com um colega de trabalho. Antônio passou a se sentir constrangido e, por vezes, afrontado com o comportamento cada vez mais doentio e destrutivo da esposa. E, assim, ele começou a se afastar dela. No cúmulo de sua doença, Carina decidiu que, se não encontrava provas de um possível adultério do marido com outra mulher, talvez ele estivesse envolvido com algum colega de trabalho. Afinal, tinham o chopp de sexta, o futebol de quarta e as viagens de trabalho. Foi o limite para Antônio, que decidiu sair de casa e informar à esposa seu interesse em dissolver o casamento. O convívio se tornara impossível. As sugestões de Antônio para tratamento terapêutico eram tidas como ofensivas por Carina. Nada mais a fazer ou tentar. Recentemente, Antônio arrumou as malas e saiu. Após uma semana de lágrimas, gritos e destruição de objetos, Carina acaba de ter um repente. Antônio é seu, e não pode estar com mais ninguém, hoje ou nunca. Mas Carina tem uma solução para o problema: chamou um “uber” para ir ao local de trabalho de Antônio, no bolso do vestido a pistola herdada do pai militar. Ela tem a solução para que eles estejam eternamente juntos sem que haja chance de serem importunados por terceiros.