“O invejoso não deseja o que é do outro, deseja apenas que o outro não tenha o que tem. Não seja o que é.” (Pe. Fábio de Melo)
Com esse pensamento, Pe. Fábio de Melo busca explicar seu entendimento de que a inveja é pior que a cobiça. Por vezes, ouvimos alguém dizer que ao tomar conhecimento de algo, sentiu inveja branca, como se a inveja em qualquer situação pudesse ter um caráter positivo. Concordo com Teorilang, quando ele diz que “a inveja serena é a pior das invejas, pois além de tudo ela é traiçoeira, dissimulada e rica em falsidades”. Devemos ter felicidade quando alguém obtém uma vitória seja material ou pessoal. A inveja nos afasta da busca de nossas próprias vitórias e conquistas. Ficamos mais preocupados com o outro do que com nossos atos, para alcance de nossas metas. Sou um apaixonado por Molière, principalmente pela eterna atualidade de seus questionamentos dos costumes. Na peça “O Avarento”, esse autor diz: “A virtude neste mundo é sempre maltratada; os invejosos morrerão, mas a inveja é poupada.”. Triste realidade! E, muitas vezes, ela é poupada sob a justificativa de ser “branca”, o que por si só já comporta a iniquidade do racismo. Não falo aqui do branco no sentido bíblico, que significa Deus ou aquilo que foi divinizado. Afinal, a inveja não é virtude para a religião e sim um pecado. Allan Kardec muito sabiamente dizia que “com a inveja e o ciúme, não há calma nem repouso para aquele que está atacado desse mal…”. Verdade! Desconheço um invejoso que conheça a paz de espírito, pois sofre da inveja conjugada à ansiedade de não alcançar o invejado. Afinal, a inveja é, sobretudo, um sentimento de inferioridade e de desgosto diante da felicidade do outro. Há um reconhecimento de uma deficiência própria no planejar, atuar e perseverar, para a conquista de suas próprias metas. Portanto, o alcance pelos outros fere e dói ao invejoso. A conquista do outro é uma bofetada no invejoso, gerando sua raiva, ansiedade, angústia, … Muitos remontam a inveja, no plano religioso a Caim, mas prefiro o entendimento de Tiago, ao dispor que: “Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.” (3;16). Só posso concordar. O invejoso sofre um processo de intensificação da inveja até que ele só consiga perceber e se sentir afetado pelo que pertence ou caracteriza o outro. Em breve, nada lhe bastará, pois invejará tudo e a todos: “Nada é bastante ao homem para quem tudo é demasiado pouco.” (Epicuro). Epicteto nos ensina que “é um homem sensato aquele que não lamenta pelo que não tem, mas se alegra pelo que tem”. A vida boa envolve aprender a gostar daquilo que nos pertence, lutar por aquilo que almejamos e nos alegrar pelas conquistas do próximo. Assim se vive a própria vida e não se atrapalha a vida do outro. Não tenha inveja nem dê cor a ela. A boa vibração pela felicidade do outro retorna, possibilitando sua própria felicidade.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Pe. Fábio de Melo, Ivan Teorilang, Molière, Allan Kardec, Tiago, Epicuro, Epicteto
Fernando,sempre com textos a nos fazer refletir…”maravilhoso “
Waldir, seus comentários nos incentivam a escrever cada vez mais! Obrigado!