“Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.” (Friedrich Nietzsche)
Talvez seja muito fácil dizer “eu te amo”, tanto quanto é fácil defender e falar sobre o amor. Mas e viver o amor? E não seria ainda mais difícil negar o amor? A coragem ou loucura de Friedrich Nietzsche: “Sou demasiado orgulhoso para acreditar que um homem me ame: seria supor que ele sabe quem sou eu. Também não acredito que possa amar alguém: pressuporia que eu achasse um homem da minha condição.”. Será que todo amor é em si uma tragédia ou uma sátira como indica Shakespeare (“O verdadeiro nome do amor é cativeiro.”)? Muitos consideram o amor como sinônimo de paixão, o que, para os gregos, era uma doença. Aliás, eles dividiam o amor em três classes (eros, ágape e philia) conforme a extensão, forma e alcance desejado com o amor. Por que cremos que amor é felicidade? Não seria o amor pura dor? Se Fernando Pessoa brinda o amor (“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar.“), a poetisa, também portuguesa, Florbela Espanca o chora (“Quem disser que pode amar alguém durante a vida inteira é porque mente.”). E o amor pode ser aceitável, ou não, basta vermos os amores expressos por Nelson Rodrigues (“O dinheiro compra até amor verdadeiro.”), sempre tão criticados pela conservadora e hipócrita sociedade brasileira. E esse falso amor de cunho religioso que, em nome de Jesus (amor puro) prega preconceito e ódio. Onde está o princípio cristão do amor ágape? “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.” e “O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”, esse é o ensinamento em Coríntios. Talvez seja isso, o amor é tão peculiar – tão próprio, que seja mais fácil dele falar ou de seu nome se valer, que efetivamente vivê-lo. “A medida do amor é amar sem medida.” (Santo Agostinho) Mas, o amor pode tudo justificar. Ele já justificou a guerra, o holocausto, massacres, inquisições, … Certo que foram oportunismos e interpretações indevidas, todavia, o amor foi efetivamente utilizado como justificativa legítima para atrocidades. Hoje, repetimos isso. Repare quantas pessoas falam de amor e apoiam atos tiranos, injustos, ofensivos, antidemocráticos, racistas, sexistas, homofóbicos, xenófobos, contra a liberdade de credo,… “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.” (Friedrich Nietzsche) E assim, talvez, cheguemos a chave mestra do amor: respeito. Onde falta respeito não há amor. O respeito é a condicionante do amor. Não importa o que seja dito em nome do amor, mas se há falta de respeito, não a vivência verdadeira do amor. Amar é aceitar, amar é compreender. Amar não é concordar ou forçar. Portanto, amor é respeito. “Quando se respeita alguém não queremos forçar a sua alma sem o seu consentimento”, diz Simone de Beauvoir. Isso é amor. O amor tem uma certa pureza que só está garantida pelo respeito. Lembro que Pitágoras dizia: “Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo.”. Precisamos entender que amar não está nas palavras, mas nos atos e gestos (“As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar.” – Leonardo da Vinci). Se você ama verdadeiramente, você respeita. E você só é verdadeiramente amado por quem lhe respeita.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Friedrich Nietzsche, Shakespeare, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Nelson Rodrigues, Santo Agostinho, Simone de Beauvoir, Pitágoras; Leonardo da Vinci