Estou no berço, abro os olhos e vejo o meu novo mundo. São sorrisos, carinhos, beijos; todos jogando os braços e querendo meu abraço. Mas, como em um passe de mágica, olho um menino arrumando acompanhado de seus deveres escolares. Ele está entre cadernos, lápis de cores, lancheira e, assim, descobrindo tudo. E aprendendo como era dividir a atenção da professora com tantos outros semelhantes a ele. As calças começaram a ficar curtas, e os amigos entravam e saiam da sua vida tal qual faziam pela porta de sua casa. A preocupação dos seus pais sempre em poder dar aos filhos a melhor educação. Essa é tarefa nada fácil quando se trata de um time de onze filhos. E a dor do primeiro amor chega; o coração em batimentos absurdos. Mal sabia que seria somente o primeiro de muitos e muitos naquela frenética adolescência. Festas, danceterias, boates, muita música com a descoberta do álcool, do tabaco e essa curiosidade por tudo que era proibido nos belos anos 70′. E, novamente, em um piscar de olhos, estava nos anos 80′. Tarefa nada fácil a este ser, pois chegava a hora de decidir o que seria o futuro profissional. O que se deu? Talento, dedicação, sacrifício, sorte e muito sucesso pelas décadas seguintes; tudo regado a encontros, desencontros – chegadas e partidas. Houve a superveniência do bom, assim como o ruim se fez presente também. Amigos, inimigos, adversários, companheiros, amores, desamores. Viagens pelo mundo que ele desejava conhecer e conheceu. E, agora, olhando atentamente a este passado todo, ele se dá conta de que é um idoso em quem as lembranças são vivas com uma beleza atemporal. No espelho as marcas do passado em formas de rugas – cabelos e pelos grisalhos. É um espelho mágico, pois nele vejo o bebê curioso, o jovem sonhador, o adolescente irreverente, o adulto decidido e um idoso sem medo de ser aquilo que se tornou. Ele vê a mim e eu me vejo nele. Pois o meu maior e melhor trunfo sempre foi viver sem medo de envelhecer.