“A vida é como uma grande feira-livre onde de tudo, tem para vender.”(Júlio Ramos da Cruz Neto)
Sempre amei as feiras-livres. Elas têm todo um sinal do que seja a diversidade do mundo. São milhões de cores, barracas, produtos, sons, cheiros, … Quando menino, em Petrópolis, estudava com dois irmãos cujos pais eram feirantes. Eu achava extremamente intrigante aquele mundo deles, onde se trabalhava tanto, se acordava tão-cedo e havia uma certa cara de hereditariedade no sonho de todos serem feirantes como o foram seus pais, seus avós, … Havia duas feiras próximas de casa: uma pequenina, às quintas-feiras, e uma maior, aos domingos. E delas me lembro de Dona Maria, que era especializada em vender folhagens de um verde esplendoroso. E havia, também, a grande feira-livre no centro da cidade aos sábados. De onde meus avós vinham sempre portando um buquê de flores para enfeitar a casa. Durante meu tempo de São Paulo, próximo de casa, tinha a feira da Praça Roosevelt, que, após as reformas da praça, acabou sendo transferida para a Rua Major Quedinho. Nada melhor que domingo, pela manhã, ir comer um pastel dos “japoneses” na primeira barraca da feira. A ansiedade pelo pastel fazia com que, reduzindo o caminho, cruzasse por dentro do Hotel Jaraguá. Por vezes, voltava ali, no mesmo lugar em que acabara a noite de sábado comendo sanduíche no Bar do Estadão, para atacar os pastéis de camarão com catupiry. Também em São Paulo, aos sábados, como não ir à feira da Praça Calixto? Onde se negociam antiguidades, artesanato, comidas, … Ao mudar para o Rio, acabei em um bairro sem feira-livre, coisa de gente metida a ter um modo americano de ser: supermercados, onde se chega de carro e, com ar “blasé”, se finge importância na impessoalidade. Mas, como sempre, procuro e encontro o que quero. Assim, descobri, pertinho, uma tentativa de feira-livre. Às quintas, na pracinha da lojinha de plantas, local cercado pela entrada de vários condomínios, estaciona um ônibus repleto de produtos maravilhosos e frescos, que vão dos chuchus aos variados cogumelos frescos. O melhor, os produtos e o ônibus vêm da minha cidade natal. Ao lado dessa grande barraca sobre rodas, Rafael vende queijos maravilhosos, mas tudo ao cheiro do pastel da banca seguinte. Ali semanalmente compro também as mariolas, que meus amigos vêm destroçar aos sábados. Em frente, aos queijos está o carro de Suzana, onde há camarões, salmão, pescada rosa, linguados e lulas. Muito peso para carregar? Ok. Você resolve isso se preparando com uma “long-neck” gelada da banquinha de jornais. Da forma mais incrível, esse pequeno burgo atrai muita gente, que começa a se cumprimentar, depois a se falar, … E alguns grupos voltam lá à noite, não mais para a feira-livre, mas para o bate-papo do churrasquinho de gato. E nesse espaço onde se encontram profissionais liberais, domésticas, empresários, feirantes, vendedores, trabalhadores de todo tipo, todos se fazem iguais. Novamente, a feira-livre dá o tom da verdadeira humanidade, onde a individualidade, por diversidade, caracteriza uma plena igualdade. Fico torcendo para que logo chegue a próxima quinta-feira.