Timbó era mais um desses brasileiros, para quem as tragédias são os momentos sequenciais a que alguns chamam de destino. Nascido de um momento que nunca caracterizou uma relação ou uma escolha, Timbó era uma obra sociológica de um ovário, quase uma cissiparidade com relação à sua mãe. Não diferia, portanto, de seus outros irmãos, todos criados pela sofrida mulher. Ela acreditara naquela falsa presunção de que onde come um comem dois. Na verdade, a fome sempre cresceu com o aumento da família. E, no mais triste dos cenários, a saúde da provedora se deteriorou até que ela encontrou seu fim, que certamente não importava em menos ou mais paz. Irmãos esparramados pelo mundo, Timbó foi buscar um caminho que nunca passou de uma marquise de prédio e um pedaço de calçada. Seu único bem: uma fotografia da mãe. Um amuleto; única peça de herança. Uma foto da única pessoa que lhe amou verdadeiramente na sua existência. Na realidade da fome, da rua, da falta de educação e de qualificação, Timbo se profissionalizou nos pequenos furtos, que foram sucedidos por crimes mais graves. Uma solução para quem a bebida afastava o frio e as drogas colocavam para longe a faminta realidade. Logo, Timbó se tornou um fruto podre de uma sociedade que sempre esteve distante de ser saudável. Esse tipo de fruto tem um tempo para existir até ser de alguma forma extirpado de e por essa mesma sociedade que o gerou. Não seria diferente com Timbó. Bastou ter feito uma escolha equivocada de assalto. Se economicamente a opção seria tecnicamente explicável, não o era sob a ótica do poder de influência da vítima. Como se diz: Mexeu com quem não devia! E, assim, iniciaram sua caçada, ou seja, aquilo que os agentes policiais não têm por hábito fazer se as vítimas não têm lá grande prestígio. Um animal marcado para morrer – acuado pela impossibilidade do arrependimento, eis Timbó. Ele não teria como lidar, assim como qualquer outro, com o uso da autoridade a favor do interesse privilegiado. E assim, no cerco ao animal, Timbó quedou em tons de vermelho na esquina. Não havia por que gritar, implorar, ou qualquer ato que o valha. Melhor olhar a foto da mãe no momento derradeiro, ainda que crendo que ele iria para um lugar diferente daquele a ela destinado. Corpo tombado, sangue coagulando, e o matador se aproxima para ter certeza do trabalho bem feito – a eficiência do extermínio. Com seu coturno pisou a foto deitada no chão poeirento. Só mais um a pisar naquela mulher e garantir outra tragédia que garantisse o destino contido na sua miserável história.