A MAGIA DA IMAGEM, QUE FAZ SENTIR E PENSAR – FOTOGRAFIA.
“A fotografia sempre me espanta, com um espanto que dura e se renova, inesgotavelmente.” (Roland Barthes)
Com a pandemia e o “homeoffice”, acabei restrito a um escritório improvisado em casa. Durante horas ao computador, erguer os olhos ou olhar para o lado era a fuga por meio das fotografias que me cercam. Há tantas pessoas, algumas já nem estão na minha vida, seja pelo destino ou pela morte. Mas, afinal, nas palavras de Madame Lispector: “Fotografia é o retrato de um concavo, de uma falta, de uma ausência.”. São pessoas, lugares, momentos, eventos, …; uma quantidade de sentimentos que parecem nem caber no coração. Sempre amei as fotografias e, principalmente, aquelas em preto e branco. Tenho um baú de fotos guardadas. Tenho fotos das minhas viagens como mochileiro. Algumas delas são como talismãs. Por exemplo, no hall do meu apartamento tudo se abre com uma pequena foto de casamento dos meus pais. Pois, aí começa a aventura da minha vida. Apesar do aspecto visual, algumas fotos me trazem memórias tão reais que sou capaz de sentir o aroma que dominava o momento fotografado. O mestre dos signos Roland Barthes dizia que “a Fotografia não fala forçosamente daquilo que não é mais, mas apenas e com certeza daquilo que foi”. Não importa se algumas pessoas das fotos passaram, mas ainda há o vívido sentimento do momento registrado, com os sentimentos que o permeavam. Quando ouço falar de pessoas que rasgaram as fotos com ex-amores me pergunto a razão. Elas não estão desparecendo com o momento, mas negando o seu conteúdo, inclusive no que diz respeito a elas mesmas. Nesse contexto, compreendo, em “Anos Dourados”, quando Chico Buarque cantou “na fotografia estamos felizes … no nosso retrato pareço tão linda”. A fotografia não demonstra o fim da relação, mas a beleza daquele momento, pois, afinal, “que o amor seja eterno enquanto dure” (Vinicius de Moraes). “De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório.” (Henri Cartier-Bresson). Mas a fotografia vai além. Eu diria que ela pode ser um tanto subversiva, e percebo melhor isso com a lição de Barthes de que ela o é, “não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa”. Pensativo, é assim que me torno quando revejo os diversos livros que mantenho com as obras de Sebastião Salgado, que do alto da sua maestria lembra que “você não fotografa com sua máquina. Você fotografa com toda a sua cultura”. É isso! Então tudo se explica quando ele informa esperar que a pessoa ao passar por uma exposição sua não saia a mesma. Esse o grande poder e perturbação da fotografia, ela munda as pessoas e o mundo ainda que seja a poesia da imobilidade. Quem esquece da foto do beijo parisiense ao final da II Guerra, ou do menino de Nagasaki, ou da menina vietnamita, ou da estação central de Nova York tomada por fachos de luz, ou de Janes Joplin em Woodstock, ou ainda da menina afegã? Talvez passem os fotógrafos, mas suas imagens estarão para sempre em nossas mentes. Por certo, as pessoas compram ideias, e não fotografias, como frisou Anne Leibovitz. Esses artistas da fotografia, pela imagem, trouxeram reflexão, sentimento e empatia a milhares de pessoas. Nessa hora você entende que sem a arte não há evolução da sociedade. Busque conhecê-los e suas obras, e sua visão do mundo será diferente. Afinal, “a fotografia é uma das poucas coisas que tem poder sobre o tempo: ela o paralisa” (Tumblr).
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Roland Barthes, Clarice Lispector, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Henri Cartier-Bresson, Sebastiao Salgado, Annie Leibovitz, Tumblr