À moda de Rei Lear, quando Shakespeare retratou duas filhas que abandonaram o pai depois de dividida a herança, Balzac criou a figura deste comerciante decadente, que ama as filhas de modo incondicional e assiste apático a sua fortuna sendo consumida pelos caprichos de sua prole. Figura igualmente central do romance é o estudante de direito Eugène de Rastignac, que deseja de todo modo inserir-se na alta sociedade parisiense e para isso abandona, aos poucos, os padrões morais para atingir seu objetivo. Ao retratar a trajetória desse jovem provinciano em busca de notoriedade, Balzac apresenta ao leitor as várias facetas de uma sociedade cruel, de moral elástica e dividida entre as regras de um passado regido pela nobreza e a nova ordem social em que o dinheiro é o protagonista.