“As pessoas não serão capazes de olhar para a posteridade, se não tiverem em consideração a experiência dos seus antepassados.” (Edmund Burke)
A sociedade é marcada não só pelo consumismo, mas há algo a mais por trás. A ideia é sempre garantir uma certa superioridade, ser mais inteligente, sofisticado, poderoso, influente, rico, privilegiado, ter melhor casta, … E nessa onda, vejo até alguns renegarem suas origens, pois eles não as consideram suficientes para garantir aquele destaque ou superioridade já mencionados. Lembro de algumas telenovelas que exploraram esse mote, como “Dona Xepa” ou “Vale Tudo”. Nelas, personagens renegavam sua filiação por conta de um suposto comprometimento de posição social ou “melhora” de tal condição. Outras obras exploraram o assunto com personagens que criaram famílias irreais ou maquiavam as suas. Esse é um comportamento muito comum e que presenciamos com certa constância no dia a dia. Pessoas movidas pelo sentimento de que estariam desabonadas a determinadas posições ou conceitos em razão de seus ascendentes. Me pergunto se, em vários desses casos, não são os ascendentes que ficam aliviados de não serem vinculados a tais pessoas. Quando Burke fala que “não há conhecimento que não tenha valor”, ele está complementando o pensamento que originou este texto. Na verdade, somos uma consubstanciação de tudo que aprendemos e de todos com quem nos relacionamos ou simplesmente esbarramos. E, certamente, grande parte do conhecimento vem direta e indiretamente por nossos ascendentes. Renegar tais pessoas, ou mascará-las, importa em renegar a si mesmo e faltar a sua própria verdade. Grande parte desse processo envolve preconceitos arraigados, que levam a pessoa a esconder aquela avó preta, aquele avô operário, aquele tio alcoólatra, um bisavô louco, um primo presidiário, uma mãe adúltera, um pai estelionatário, … De que adianta? A realidade sempre bate à porta com o advento da verdade, e, da mesma forma, o medo da verdade mantém uma condição de ansiedade fatal à paz de espírito. O grande segredo é entender a sua autoconstrução e o papel de cada predecessor seu nessa jornada. Todo mundo vive com perfeições e imperfeições suas e dos outros, sejam eles presentes ou passados. A grandeza está nesta convivência e seu aprendizado e nada mais.