“Deus costuma usar a solidão para nos ensinar sobre a convivência” (Paulo Coelho)
Definitivamente, este é um tema difícil e um tanto quanto pesado… Confesso: me senti um pouco intimidada com o convite para escrever sobre este tema. Mas, como não sou de “fugir da raia”, topei o desafio! Meu primeiro pensamento foi: sem dúvida, apesar de toda tecnologia e os benefícios que ela nos trouxe, a solidão é um mal que assombra um número cada vez maior de pessoas, apesar de toda a tecnologia do mundo moderno. Um verdadeiro paradoxo, né? O fato é que a solidão tem uma definição técnico-científica, mas também é um sentimento que, como tal, é sentida de diversas formas. O que para mim é solidão, pode não ser para outra pessoa e vice-versa. Talvez por isso e também pelo peso que ela pode representar para cada um de nós, seja tão difícil falar sobre ela. Não bastasse isso, tem, ainda, as mais diferentes formas de como ela se manifesta e como cada indivíduo a percebe ou sente. Para mim, a solidão está associada a uma sensação de vazio, de não ter com quem contar ou, simplesmente, com quem compartilhar. Mas, imediatamente, esse pensamento me leva a uma segunda vertente, tão importante quanto a primeira: eu tenho que ser uma boa companhia para mim mesma. Então, em primeiro lugar, se eu estou bem e gosto da minha própria companhia, não preciso me sentir só… Em seguida, vem uma sensação mais estranha ainda, que é a solidão a dois ou a três ou, enfim, quando não se está sozinho. Essa, para mim, é a mais triste das formas de solidão. E pode estar associada a amigos, filhos, família… Sentir-se só estando rodeado de pessoas é, realmente, muito ruim. Clarice Lispector traduziu bem este sentimento: “Que a minha solidão me sirva de companhia, que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo”. E a solidão não é, necessariamente, uma maldição, podendo ser, antes disso, uma opção. Tudo depende de como você a encara e como se sente com isso. Neste sentido, muito sábias as palavras da escritora e cronista Martha Medeiros: “A solidão só me dá prazer na medida em que sei que ela é uma escolha. Solidão só dói quando é inevitável”. Eu acho que é bem por aí, mesmo. São escolhas que fazemos ou, se não o são, podemos lutar para modificar aquilo que não está nos fazendo bem… A pandemia, esta sim, em maior ou menor proporção, trouxe para todos nós uma sensação de isolamento, de solidão. E esta sim foi, de certa forma, inevitável. E foi tão repentina e inesperada que deixou a todos nós, no mundo todo, apreensivos e até doentes emocionalmente. Ninguém estava preparado para isso. As sequelas permanecem, mesmo depois de “o pior já ter passado”. Assim como estamos vencendo o vírus, vamos superar estas sequelas também. Não sem dor, mas com a certeza de que é preciso seguir em frente. Outro dia, assisti na televisão, um programa com o velejador Amyr Klink. Quantas aventuras maravilhosas e desafiadoras ele viveu! A maioria delas, sozinho… Medo, solidão e, ao mesmo tempo, não ter com quem dividir as vitórias e conquistas. Contraditório? Mas essa é a essência do ser humano, afinal. Neste programa que assisti há algum tempo atrás, e, justamente perguntado por este sentimento da solidão, ele disse “Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só”. Achei genial!
Autoria: Marcia Siqueira
Autores citados: Paulo Coelho, Clarice Lispector, Martha Medeiros e Amyr Klink