“Monteiro Lobato não faz o leitor se tornar racista.” (Luciana Sandroni)
Após sua obra tornar-se de domínio público, Monteiro Lobato passou a figurar como
preconceituoso, racista, misógino, etc. Minha geração (anos 70), conhecia o autor através da sua obra mais conhecida, Sítio do Pica-Pau Amarelo, onde as aventuras de Narizinho, Pedrinho, Emília, Visconde de Sabugosa e etc, nos deixavam ansiosos para o próximo episódio e, naturalmente, o Tio Barnabé, Tia Nastácia, Dona Benta também frequentavam nosso imaginário . Ludicamente, vivíamos essas aventuras “pirlimpimpando” a todo momento; conhecemos muito sobre o nosso folclore, sua riqueza imensa e diversidade de mitologias. Naquela época, não tínhamos o pensamento voltado para racismo, preconceito, vivíamos o momento, nossa época, assim como a época que os livros foram escritos; era outra realidade, tanto que músicas , peças de teatro , eram repletas de racismo, preconceitos. Com o desenvolvimento intelectual e civilizatório, hoje possuímos uma visão diferenciada e é por isso que podemos debater essas obras da literatura brasileira. Não creio que devemos mudar o texto das obras, devemos usar para educar e mostrar que no Brasil existiu a escravidão, que ela foi sangrenta, matou e mutilou centenas de milhares de seres humanos, que até hoje sofrem as consequências da maldade humana. As obras de Lobato refletem a sociedade da época cruamente, um tapa na cara da hipocrisia, em um país que esconde sua história e transforma assassinos em heróis. Deve-se usar essa obra e educar, mostrar como evoluímos em sociedade, esconder isso, também é esconder a história. Somos um país que não possui um Museu da Escravidão, um Museu da Ditadura, não falamos dos índios mortos durante a ditadura militar; escondemos nossa história, varremos para debaixo do tapete. Que possamos revisitar esses momentos históricos e transformar os erros em aprendizado, pois somente assim, conhecendo a verdade de nossa história, teremos condições de saber escolher o que é melhor para nós. Monteiro Lobato, e tantos outros, devem ser revisitados, estudados, explicados e, principalmente, devem ser valorizados como fonte histórica para a nossa nação.