“A arte mais difícil, e simultaneamente mais útil, é a de saber educar” (Persichetti)
No bairro em que nasci e fui criado, lá em Petrópolis-RJ, há um morro coberto de vegetação, no topo do qual se ergueu uma Igreja. Após o caminho sinuoso, onde estão os pequenos oratórios com as cenas da paixão de Cristo, chega-se à Capela de Nossa Senhora Auxiliadora. Por isso, aquela região do bairro Bingen é chamada de Capela. Os mesmos moradores – gente simples – que trabalharam na construção da igreja, entenderam pela necessidade de uma escola, para que os filhos não precisassem se deslocar tanto, numa época de transporte escasso. Lembrando Augusto Cury: “Educar é semear com sabedoria e colher com paciência.”. A escola se iniciou sem prédio, com aulas na sacristia da igreja. E, na primeira turma, estava matriculada minha mãe. Posteriormente, os moradores, a meio caminho da igreja, construíram um prédio para a Escola Municipal Santa Maria Goretti. E nessa escola fui matriculado aos 6 anos. Foi minha primeira escola como o foi para a maioria das crianças do bairro, em uma época em que as famílias se conheciam e delas vinham as professoras. Éramos alunos, colegas, vizinhos e ainda, por vezes, parentes. Há poucos anos, fui a uma missa da Semana Santa na Igreja e surge minha segunda professora (Dna Leônia), que, incrivelmente, me olhou e reconheceu passados mais de 40 anos. As ligações entre alunos e professores era quase um vínculo familiar, onde reinava respeito e admiração. “Educar a mente sem educar o coração não é educação.” (Aristóteles) Era um tempo feliz com cheiro de mimeógrafo, cartilhas, “picnics”, merenda, lápis de cor, … O prédio tinha um salão com palco e, além de peças de teatro, tínhamos as projeções de desenhos animados. Lembro bem do desenho dos “4 animais cantores de Bremen”, baseado no conto dos irmãos Grimm. Essa era uma época em que escola pública tinha qualidade e não era sinônimo de caos e violência. A educação era o primeiro fator na visão dos meus pais. Após três anos, fui para um colégio maior, onde fiquei até a entrada na faculdade. Aos 8 anos, ir ao colégio sozinho, e de ônibus, me dava a sensação de conquista do mundo. Eu era independente e estava pronto para conquistar o mundo e fazer meu destino. Uma época de uniformes e muita disciplina, mas de muitos amigos e atividades (gincanas, centro cívico, olimpíadas, desfile de 7 de setembro, concursos literários, peças de teatro, …). Acho que só não participei da Banda Marcial do colégio. Sempre amei música, mas sem nenhuma aptidão para lidar com qualquer instrumento. E daqui trago também muitas pessoas. Algumas já se foram, mas mantenho-as vivas em minhas lembranças e emoções. O Colégio São José foi parte não só da minha formação educacional, mas também do meu posicionamento assertivo, da minha rigidez de valores e coerência a meus princípios. Nas palavras de Paulo Freire: “Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!”. Há alguns anos fizemos um reencontro de alunos. Apesar de poucos presentes, foi emocionante. Eram tempos diferentes aqueles; havia implicâncias (“bullyng”), piadas politicamente erradas, brincadeiras com certa dose de assédio, mas vencíamos isso saindo mais fortes, firmes e preparados para as dificuldades e frustrações da vida. Não era tempo de pieguice e churumelas. Nada era perfeito, mas nada é perfeito. Estávamos no mundo real e sendo preparados para o mundo real. Afinal, como ensina Rubem Alves, “educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu”. Outro dia, numa reunião de amigos, e lembrando dessa época, entoei todo o hino do colégio. Era um tempo de comprometimento com aquilo de que fazíamos parte, com dedicação e paixão. Um mundo bem diferente do que presencio hoje pela educação familiar e escolar das crianças, o que explica um pouco dos resultados que temos, ou seja, uma sociedade materialista, egocêntrica, sem empatia, compaixão e respeito ao próximo. Nem tudo do passado é bom, mas nem tudo é mau. Minha saudade não é angústia, mas a lembrança dos sorrisos e conquistas daquela época. A escola é parte feliz da minha vida.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Persichetti, Augusto Cury, Aristóteles, Paulo Freire, Rubem Alves