“Ninguém pode silenciar uma mulher que nasceu amordaçada” (Rupi Kaur)
Sempre me pareceu estranha essa sociedade segregadora em que vivemos. Não sei se por educação, por formação religiosa ou por outro desígnio, sempre entendi que todos são iguais perante Deus e a lei. Portanto, qualquer forma de discriminação sempre me soou criminosa. Entendo que as mulheres sempre foram discriminadas sob os mais absurdos fundamentos, seja de um pecado ancestral (Eva, Pandora, …), seja por um comportamento regimental (O Martelo das Feiticeiras), seja por outros despautérios. Reconheço também que houve um grande avanço e que se deve parte dele a mulheres e suas ações, dentro ou fora de movimentos feministas. Aqui poderíamos citar exemplos e mais exemplos de mulheres que com ações e exemplos trabalharam em prol desse aperfeiçoamento da sociedade. Mas, quero me ater aqui a quatro mulheres vivas, cujas atuações me chamam especialmente a atenção. São mulheres que por razões étnicas, religiosas, de origem geográfica e de saúde são uma prova de luta necessária e eficaz. A primeira delas se chama Rupi Kaur, que brilhantemente ensina na sua poesia que não há lugar para um feminismo elitista, mas de um feminismo que se volte para todas as mulheres, independentemente de etnia, religião, opção sexual, …, incluindo inclusive as mulheres trans. Um dos pontos chaves que Rupi traz advém de alguns de seus versos: “não tenho interesse/num feminismo que pensa/que alçar mulheres ao topo/de um sistema opressor é suficiente/- não contem comigo como porta-voz”. Existe uma necessidade de mudança do sistema, e não simplesmente forçar que este sistema aceite “quotas” de mulheres. E aí chegamos na segunda mulher que gostaria de citar: Chimamanda Ngozi Adichie. Essa mulher, além de um modelo sob a ótica da quebra da discriminação racial, adentra à questão da mulher e seus direitos com uma qualidade e prosa inesperadas. Suas obras “Sejamos Todos Feministas” e “Para educar crianças feministas” trazem uma lógica de explanação que clareia quão absurdo é o sistema vigente na sociedade com sua discriminação débil e decrépita. Chimamanda é categórica: “É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente.”. Precisamos de um mundo diferente, pois é impossível crer em um mundo, hoje real, como aquele denunciado pela terceira mulher que gostaria de lembrar: Malala Yousafzai. Essa jovem e mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, nos mostra um mundo presente e obscuro, onde educação é negada a jovens, mas principalmente a meninas. A educação permite a sabedoria que é o bem maior. Como existir um mundo em que desde o princípio se proíba a um ser humano o bem maior? E o pior, coibir isso tentando exterminar quem defende o certo, o direito. Malala diz “Sentar numa cadeira, ler meus livros rodeada pelos meus amigos é um direito meu”. Mais que um direito dela, esse é um prazer que todos deveriam ter, se apoiassem um sistema de valores outros e não aqueles hoje vigentes e tidos como superiores. Mas para tudo isso é necessário que o mundo exista, e, por isso, quero citar, uma quarta mulher: Greta Tintin Eleonora Ernman Thunberg. Novamente uma jovem, talvez não tão engajada no movimento feminista, mas uma ativista pela sustentabilidade. Alguém com olhos voltados para nosso planeta e sua destruição por nós mesmos. E novamente temos aqui um sinal que toda decisão depende do individual como ponto de partida. “Estou dizendo para vocês que há esperança. Eu tenho visto isso. Mas ela não vem dos governos e corporações. Ela vem das pessoas” (Greta Thunberg). Esses são quatro dentre milhões de exemplos de mulheres que precisam ser homenageadas não durante um dia, mas sim ouvidas e ecoadas todos os dias.