“A vida vem em ondas, como um mar/Num indo e vindo infinito” (Lulu Santos)
O grande acerto da canção está no fato de que a infinitude está na mudança e não na constância. Já dizia Heráclito que “nada é permanente, exceto a mudança”. Mas criamos sempre essa sensação de que, quando estamos satisfeitos, plenos, felizes, …, aquela situação será infinita. Não! Voltando ao letrista “tudo muda o tempo todo no mundo”. Os grandes pensadores sempre tratam da mudança a partir da decisão individual que permite por meio de uma ação gerar a alteração conjuntural. Podemos citar de Gandhi (“Temos de nos tornar na mudança que queremos ver.”) a George Bernard Shaw (“O progresso é impossível sem mudança; e aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada.”) passando por Kant (“Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço.”). Poder-se-ia pensar, então, que basta a omissão e tudo permanecerá como está. Longe disso! A mudança, mais das vezes, vem por fatores exógenos. Ou seja, algo estranho a você, do qual você não tem controle ou vontade, acontece e tudo já mudou. Podemos citar a recente tragédia das chuvas em Petrópolis. A força da natureza veio, a par das vontades individuais, e trouxe mudança. Certamente, as pessoas não serão mais as mesmas, seja pelas perdas, seja pelas novas apreensões. Por mais difícil que seja, vale a lição de Stephen Hawking: “Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança.”. E assim a vida se transmuta sempre, independente do que desejamos ou do que sonhamos. Como diz a música, “tudo passa, tudo sempre passará”. O grave é que a mudança pode ser brutal, trágica ou não. O inimaginável pode ocorrer. Vamos pensar em algo menos mortal, mas que significa uma mudança jamais suposta. Vamos para o segundo ano consecutivo sem carnaval em fevereiro. Quando você acreditaria se isso lhe fosse dito a alguns anos atrás? A pandemia trouxe uma mudança que não é momentânea. Chego a rir quando ouço coisas como: estamos voltando a normalidade ou estamos próximos de retorno ao normal. Nada será igual! E recorro novamente a música de Lulu Santos: “Nada do que foi será/De novo do jeito que já foi um dia … Tudo o que se vê não é/Igual ao que a gente viu há um segundo”. As máscaras existirão, as doses de vacinas, os medos e apreensões, o home office, as “lives” e “calls”, … Não se trata de negativismo, mas de constatação de uma realidade, onde a mudança veio pelo fator externo. Isso vem acontecendo em diversos momentos da história humana, mas as pessoas se negam a aceitar. “Não adianta fugir/Nem mentir pra si mesmo agora” (Lulu Santos). Nem a maior festa popular do mundo – o Carnaval – venceu a pandemia. A festa carnavalesca juntou com Tiradentes … inimaginável. Mas não acabou a folia. A questão é como reinventá-la. Ou entendemos a mudança, e encontramos adequação e o melhor meio de viver a nova realidade, ou viveremos de um saudosismo negativista e angustiante. Precisamos entender o ensinamento de Maquiavel segundo o qual “uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança.”. Viver é mudar, por vontade própria ou imposição alheia; viver bem é estar pronto para a mudança.
Autor: Fernando Sá
Autores citados: Lulu Santos, Heráclito, Gandhi, George Bernard Shaw, Kant, Stephen Hawking, Maquiavel