“Fui porta-estandarte,/não sei mais dançar.” (Chico Buarque)
O Carnaval no Brasil é comemorado no alto verão. No Rio de Janeiro, em específico, os corpos costumam ficar sob a luz do sol suados e brilhosos de purpurina. Confetes e serpentinas tomam as ruas com suas cores e formas. Relacionamentos pedem um tempo e beijos na boca são disputados em cada esquina. Essa é a tradição mais esperada pelos foliões cariocas, de outros Estados e países também. O samba é cantado na ponta da língua melhor que o Hino Nacional. Por baixo, são cinco dias de blocos, 24 horas, rolando pela cidade. A galera faz até um esquema de agenda para não perder os mais importantes. Turistas a balde de dentro e de fora do país. É a hora de ambulantes e agentes de reciclagem (catadores de latinhas) fazerem um extra. Pipoca, churros, cerveja e água gelada, espuma em spray, máscaras de políticos, e por aí vai… Ainda tem gente que não curte e outros que não podem, pois sua denominação religiosa não permite. Pelo pouco que sei, o Carnaval faz parte do calendário religioso e é demonizado como a festa da carne. Bom, eu sempre acreditei na intenção das minhas ações. Se eu for para a gandaia, sei a energia que isso vai me trazer, mas se eu for para me divertir com os meus amigos, vou me recarregar de tanta felicidade que essa festa vai me proporcionar. Cada um sabe onde pisa e no que isso vai dar. O que me toca, mas me conforta, é que estamos há dois anos sem Carnaval de rua. Isso não pesa só na diversão e no feriado prolongado. Pesa no prato do trabalhador também. Mas por outro lado, várias vidas foram poupadas pelo ato de evitar aglomerações. Não que não teve e não vá ter festas clandestinas, mas o grande ato público foi adiado. Fico pensando, até quando vamos perder espaços para esse vírus? Creio que nunca iremos retornar a normalidade do passado. Teremos um novo normal, para o qual será preciso adaptação e senso crítico de coletividade. Espero que não seja uma nova normose e sim um novo começo para a vida seguir em frente.