“Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.” (Manuel Bandeira)
Mesmo nas artes, o Brasil sempre passou seus anos olhando para além-mar ou fora das fronteiras. Se no primeiro Império éramos voltados para os franceses, no segundo império o éramos para os alemães – vemos as características pessoais dos imperadores (um mais “bon-vivent” e outro mais austero). Com a República começou essa aproximação com os Estados Unidos; aliás o país se chamava Estados Unidos do Brasil. Esse comportamento, ainda hoje existente, foi combatido pela, e até hoje se tenta minorar, importância da Semana de Arte Moderna de 1922. O que mais deveria ser ressaltado nesse ato de independência artística era a ausência de formalismo (própria do brasileiro), valorização da identidade e cultura brasileiras (sempre consideradas de forma marginal), experimentações estéticas (jeitinho brasileiro), utilização da linguagem coloquial e vulgar (prática comum aqui) e as temáticas nacionalistas e cotidianas (distopia que vivemos ao nos compararmos sempre a europeus e americanos). Isso chocou e choca. E talvez por isso haja um exercício em desprestigiar o movimento, que mereceria muito mais louvores, estudos, dedicação e prosseguimento. Essa semana de três dias, envolvia intelectuais de diversas áreas (atores, escritores, músicos, pintores, escultores, arquitetos, …), que, ainda que, em grande parte, com origem nas oligarquias, viam a necessidade de uma estética que olhasse para o umbigo – para dentro. Essa “seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista”, nas palavras de Di Cavalcanti. A semana não só nos propiciou obras maravilhosas geradas por Graça Aranha, Menotti del Picchia, Manuel Bandeira, Villa Lobos, os irmãos Mário e Oswald de Andrade, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Sérgio Millie, Guiomar Novaes, Tarsila do Amaral – e por aí vai, mas também um repensar no nacionalismo. O grande idealizador de tudo foi um pianista prodígio de nome Mario de Andrade (escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista e ativista cultural brasileiro), que dá o tom do evento: “Minha obra toda badala assim: Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil.”. Pena tudo ainda soar um pouco quixotesco, pois o “Brazil” ainda espera encontrar o Brasil. A modernidade não chegou, mas obrigado a esses intelectuais que ousaram dizer que somos diferentes e devemos expressar essa diferença.
Autoria: Fernando Sá
Autores: Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Mario de Andrade