QUEM É VOCÊ PARA O PRÓXIMO? COMO VOCÊ TOCA O OUTRO?
“O homem bom amplia o espaço da sua vida.” (Marcial)
Não falo aqui da opinião que os outros têm de você ou da visão que fazem de você, mas do quanto você reflete no outro e se inclui na vivência dele. Aliás, dizia Antônio Maria que “é muito importante isto de alguém nos incluir em seus planos de felicidade”. Isso envolve como sou entendido/conhecido e não, simplesmente, como sou visto ou indicado por uma presunção de quem opina. “Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato… Ou toca, ou não toca.” (Clarice Lispector) Em regra, sou muito sério, mesmo sisudo em fotos, o que está longe do meu humor, das minhas constantes piadas e riso solto. Portanto, pode existir uma visão e uma opinião sobre mim, que não necessariamente representam quem sou. Algumas pessoas criam comportamentos na expectativa de gerarem de si uma visão ou opinião pelos outros. O que nem sempre dá certo. Lembro de um colega de profissão que nunca atendia de pleno e fazia questão de demonstrar que era necessário esperá-lo, pretendendo assim assinalar uma suposta importância por acúmulo de afazeres. Certa vez, um contato profissional estrangeiro comum fez um comentário sobre isso, mencionando que o colega se tratava de pessoa pouco zelosa ou eficiente, e não de alguém importante. O tiro saiu pela culatra. Pois é, talvez também houvesse nesse comentário uma visão equivocada. Mas é importante entender o que Chanel alcançou ao dizer que “nem tudo que é bonito vai te fazer bem quando te tocar”. As aparências enganam como já dizia a música ou consoante o saudoso Millôr: “Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.”. Mas, algumas pessoas vivem preocupadas com a opinião dos outros e conduzem seus caminhos, até de forma infeliz, por força dessas opiniões. Afinal, Pascal ensinava que “a opinião é a razão do mundo.” Mas o que realmente importa é como você toca o outro, como o outro, ao efetivamente conhecer você, lhe incorpora no seu mundo. Eu realmente acredito que isso só ocorre quando o outro conhece suas ações. Suas ações determinarão sua empatia, seu respeito, sua consideração, sua fidelidade, sua disponibilidade, … Ou seja, pelas suas ações o outro vai senti-lo, para incorporá-lo, ou não. Não importa que a maioria, principalmente pelas redes sociais, viva a aparência. Nunca foi muito diferente, e já dizia Schiller que “todos julgam segundo a aparência, ninguém segundo a essência”. Obviamente que, na maioria das vezes, a incorporação se dará por análogos, pois, dificilmente, um egoísta reconhece positivamente empatia e compaixão; quase impossível que um desonesto reconheça a beleza contida na honestidade, … Isso pode nos permitir ver que, na grande maioria das situações pessoas boas se atraem, assim como as ruins se agrupam. Portanto, mais do que a aparência que demonstro, valem as ações que pratico, pois são estas que demonstram efetivamente minha essência. Sartre falava que a essência é anterior à própria existência. Nessa hora me pergunto, mais vale a visão que têm de mim ou a forma como toco as pessoas? Certamente, na segunda situação existirá mais verdade. Não parece cabível a dicotomia de verdades por aparência e ato. “Duas verdades nunca se podem contradizer.” (Galileu Galilei) O grande segredo, portanto, é ser bom e demonstrar isso por seus atos, pois, assim, haverá o reconhecimento e incorporação por outras pessoas boas. Minha avó dizia: “Quem com porcos anda farelos come.”. Ser bom e verdadeiro lhe aproxima de pessoas assim, e não importa onde resida, trabalhe ou tenha seu lazer. Há pessoas boas em todos os ambientes, e pessoas más também. A questão é quem você quer ser e com quem você quer estar. “Todo o homem é culpado do bem que não fez.” (Voltaire) Eu acredito no bem e nas pessoas de bem. Por pura coincidência, estudei em um local denominado King’s Hall, assim denominado em homenagem a Martin Luther King, a quem admiro profundamente por ter sido um homem motivado pelo bem e, consequentemente, pela Justiça. Ele disse que “no processo de consecução de nosso legítimo lugar, precisamos não ser culpados de atos errados”, no sonho das pessoas sejam julgadas “pelo conteúdo de seu caráter”. Por que razão você quer ser aceito, querido e incorporado? Como você deseja tocar o próximo? Respondo rápido: pelo bem que busco fazer.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Antônio Maria, Clarice Lispector, Coco Chanel, Millôr Fernandes, Blaise Pascal, Friedrich Schiller, Jean-Paul Sartre, Galileu Galilei, Voltaire, Martin Luther King