“O importante não é a magnitude de nossas ações, mas sim a quantidade de amor que é colocada nelas.” (Madre Teresa de Calcutá)
Por vezes damos tamanha importância às palavras. Por vezes as interpretamos de formas tão equivocadas. Mas na verdade deveríamos, na busca da plenitude, nos ater aos significados que escondem ou que deveriam desvendar. Talvez nenhum momento seja tão marcante e cheio de significados como o Natal. No entanto, tudo parece meio distorcido, seja pela literalidade ou pela materialidade. Epicteto dizia: “Primeiro aprenda o significado do que você diz, e então fale.”. Em se tratando de Natal, eu refaria a frase para “aprenda o significado do Natal e viva-o todos os dias do ano”. Principalmente, quando falamos da Bíblia, há uma linguagem por trás da linguagem. Ela exige uma interpretação de tempo, lugar e costumes, para que, obtido o significado do princípio moral, se aplique ele no presente. Advento era uma palavra utilizada pelos gregos, quando se aguardava a chegada da autoridade suprema (rei, imperador, ..) no local. Assim, a incorporação do termo, no mundo cristão, traz o significado da espera da primeira chegada de Cristo. Aquele que deve ser a autoridade suprema aos cristãos. Mas quantos, negando os ensinamentos de Cristo, se fazem coniventes, subservientes ou colaboradores de autoridades que praticam atos contrários à mensagem de Jesus? O fato de Jesus nascer durante uma fuga de seus pais, em uma manjedoura, tem contexto próprio. Aqui, se fala de pessoas perseguidas, pessoas simples, pessoas desprovidas, … Pessoas para quem a cristandade deve verter seus olhos. O maior pode vir do menor. A humildade e a humanidade (todas oriundas da palavra humus) se fazem a tônica de uma vida cristã. Manjedoura significa tabuleiro em que se coloca, num estábulo ou estrebaria, comida para animais. Jesus se tornaria o pão que deve alimentar aos cristãos pelo ensinamento e pelo exemplo. Não basta, então, montar um presépio e desviar os olhos dos necessitados, negar a caridade aos excluídos, ser indiferente aos que sofrem. Isso não atende ao significado do Natal. Não há cristandade sem humildade, sem empatia, sem misericórdia. Os presentes, cuja troca se alega ser uma vinculação à vinda dos reis magos, nada têm a ver com demonstrar riqueza ou garantir com eles uma diferenciação em relação aos demais daquele que dá ou daquele que recebe. O donativo significa reconhecimento e consideração, e também disponibilidade. Os presentes recebidos por Jesus representavam atos do nascimento (incenso), da vida (ouro) e da morte (mirra). Nossa doação deve ser a disponibilidade ao próximo, o reconhecimento do outro. Não é isso que percebemos, na maioria das vezes, quando presenciamos troca de presentes natalinos. Meu presentear é mostrar que reconheço aquele abraço que me foi dado na hora difícil, o afago na hora do desespero, o sorriso na hora da celebração, bem como a minha disponibilidade para estar junto também nos momentos da vida do presenteado. Não importam objetos, pacotes, valor econômico ou bela árvore sob a qual, eventualmente, os presentes foram colocados. Isso não significa o Natal! Da mesma forma, de pouco adianta se acenderem velas ou criar adornos com a Estrela de Belém, se não nos fazemos luz ao próximo. Se, na verdade, no dia-a-dia, nos entregamos à maledicência, à injúria, à maldade, ajudamos na escuridão e não na luz e no clarear. Como dizia Madre Teresa de Calcutá: “As palavras que não dão luz aumentam a escuridão.” Existem, portanto, significados no Natal que não se alcançam com a bebedeira e comilança; muito menos com a troca de presentes caros; ou com a demonstração de riqueza. Compreendo as palavras de Calvin Coolidge: “O Natal não é um momento nem uma estação, e sim um estado de espírito. Cultivar a paz e a boa vontade, ter misericórdia em abundância, isso, sim, é ter o verdadeiro espírito de Natal.”. O Natal pede sobriedade, reflexão, humildade, e, sobretudo, ele traz consigo o ensinamento que Jesus levou até o fim: o amor ao próximo, seja ele quem for, em qual condição que esteja. Certamente, com reflexão e adequação de comportamento, o Natal poderia trazer o advento de uma vida melhor e de um mundo melhor. “Honrarei o Natal em meu coração e tentarei conservá-lo durante todo o ano.” (Charles Dickens) Mas, o farei pelo seu real significado.