“Faça o que é certo sempre, o futuro é um espelho do passado.” (Betinho – Herbert de Souza)
Nasci bem no início da década de 80, no boom de disseminação do HIV. Não me lembro de muita coisa dessa época pois era bem novinho, mas, minha adolescência foi marcada pela morte de dois grandes ídolos da música brasileira: Cazuza e Renato Russo. Acho que foi aí que percebi a gravidade da doença. Já tinha estudado e feito trabalhos na escola sobre a AIDS e mesmo assim não tinha interiorizado a problemática da causa. No ensino médio, mais consciente sobre o assunto, fiz uma apresentação na feira de ciência da escola que marcou minha passagem por lá. O tema era “Catástrofes mundiais”. O foco era fazer vulcão, maquete com terremoto, furacão… Mas, eu, como sempre a ovelha negra da classe, bati o pé e disse que meu grupo iria abordar o tema da disseminação do vírus HIV. Meus amigos toparam e quase todos os professores olharam para a gente de rabo de olho. Conseguimos exames, seringas, camisinhas e fizemos uma fitinha vermelha para dar para cada visitante do nosso estande. Resumo: o nosso trabalho foi o mais visitado e elogiado. Fiquei feliz não só pela nota, mas pelo resultado de visibilidade que trouxemos para aquele ambiente de jovens. Todos na idade de descobertas sexuais – com seus hormônios falando mais alto que qualquer professor em sala de aula. A linguagem de jovem para jovem, naquele momento, era o mais próximo que eles poderiam ouvir. Anos mais tarde, a doença perdeu aquele estigma de que só infectava homossexuais. Já é nítido que todos estão vulneráveis. Mas o que passou a me incomodar é que o vírus tinha mudado de cara. Quase não se morre mais de AIDS. Soropositivos, que mantêm o tratamento em dia, não transmitem mais o vírus e têm vidas normais e sadias. Ninguém mais precisa definhar como os primeiros pacientes dos anos 80, onde não se sabia nada sobre tratamento e cura. E por isso, os nossos jovens atuais, que não viram essa cara de pele e osso, que o vírus proporcionava, não se preocupam, como deveriam, com a doença. Parece que vivemos novamente na era da liberdade sexual. Ainda mais com a oferta do tratamento de Profilaxia Pré Exposição (PREP). Ele foi criado para a possibilidade de casais sorodiscordantes conviverem tranquilamente, ou, para trabalhadores do sexo que se expõem com maior frequência. Mas virou um motivo para não se usar camisinha nas festas de sexo clandestinas ou nos sexos casuais provindos de aplicativos de encontros. Os jovens podem colher no futuro suas boas ações, mas, sem as devidas influências e estímulos, hoje, podem acabar com todas as suas possibilidades de uma vida tranquila. Fico pensando no que poderia fazer para ajudar nessa conscientização. Não participo mais de feiras de ciências, mas posso escrever esse texto como lembrete de que todos devem se cuidar para que esse vírus não venha a contaminar mais ninguém. Então, se você chegou até aqui, multiplique essa mensagem. Se cuidar e cuidar do próximo é o ponto inicial de um ciclo de boas ações para diminuir a contaminação do HIV. E lembre-se: use camisinha!