“O passado não foi como o presente nem o futuro tem que ser como o presente”. (Pedro Paulo Funari)
A proposição em pensar o tema “Visões do Futuro” me remeteu logo ao meu ofício, professor de História. Pois, falar de um tempo que não faz parte do trabalho do historiador, projetar situações para o futuro, sempre será um grande desafio. Estuda-se o passado para melhor compreender o tempo presente, ou ainda, parte-se do presente para encontrar as respostas no passado. O futuro será o legado do tempo passado e do tempo presente. A questão remete ao livro de George Orwell, “1984”. Nele, o personagem principal vive em uma sociedade totalitária, em que as individualidades não são permitidas e tudo segue sob a vigilância total do Estado. O livro, publicado após a Segunda Guerra Mundial, refletia a nova ordem mundial bipolar entre os Estados Unidos da América e a antiga URSS, ainda que o título projetasse essa sociedade no futuro. A leitura do livro, no momento, não é tão fluida; não pela escrita, mas porque em “1984”, vamos identificando elementos do passado na história republicana brasileira implantada há um pouco mais de um século. Em suas diversas fases, marcada pelo rompimento democrático, verificamos iniciativas constantes de grupos que chegam ao poder de controlar o Estado, de colocá-lo a seu serviço, de subjugar o cidadão brasileiro ao seu estatuto e eliminar quem, porventura, venha a discordar dele. Em sociedades não democráticas, a divergência não gera debates e, sim, exclusão. O resultado não é nada animador. Dessa forma, as visões de futuro, considerando nossa recente redemocratização não tem sido a de um paraíso na terra nem tampouco, a de que estamos caminhando para uma “terra prometida”. O nosso presente é de resistência e o futuro de nossa sociedade será o de reconstrução – e há muito o que fazer -. Reconstrução na esperança, nas ações coletivas, na solidariedade, na empatia e na crença de que somos brasileiros de novo, valorização que, de tempos em tempos, fica baixa. Um estudo pormenorizado da História brasileira nos ajuda a compreender que somos uma sociedade em formação, mas as bases dessa construção precisam ser revistas, pois ela não pode ser erguida sobre os corpos dos indígenas, negros, mulheres, LGBTQIA+, trabalhadores, desempregados e de tantos outros grupos destituídos de cidadania, porque isso gera sofrimento e desigualdade para todo o povo brasileiro. Nessa perspectiva, nosso presente de resistência será o legado do futuro, o de reconstrução da cidadania e da consolidação de um Estado democrático de Direito. Esse futuro não pode ser utópico.