“A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos.” (Ludwig van Beethoven)
A música está presente em nossas vidas desde a formação intrauterina. Durante os nove meses de gestação, a mãe que está conectada ao feto/bebê, indiretamente, faz ele ouvir e reagir a tudo o que ela, mãe, está ouvindo. Mas levando em consideração o momento que a criança passa a ter consciência e entendimento, ainda acho que a música entra na vida de cada um de nós da mesma forma: na infância — com aquelas musiquinhas cantadas para brincar com os bebês, por exemplo. A partir daí, não pára mais. É música para alfabetizar, música no ensino fundamental, música nos desenhos, filmes, e segue assim. Não à toa, a música tem importância visceral em todos nós. Ame ou odeie, ela estará lá. Aliás, eu não conheço ninguém que não goste de música. Pode não se agradar de um ou outro gênero, mas da arte musical em si, não conheço. É fato que ela mexe muito com o emocional de quem escuta, mas antes ela mexeu com o autor. Para ser músico, o artista precisa de grande sensibilidade e talento para traduzir o que sente em notas musicais. Até chegar aos ouvidos das grandes massas, a composição sofreu várias alterações, várias experimentações para alcançar o objetivo. É impressionante como uma mesma música pode causar tantas emoções e reações diferentes, pois cada pessoa ouve e sente de forma muito pessoal. Isso porque determinados timbres executando as notas certas da escala tonal podem despertar momentos e sentimentos na memória da pessoa. Paixão, tranquilidade, paz, medo, tristeza, raiva, tensão e excitação são alguns destes sentimentos que mais são provocados. Para mim, tem músicas que têm sabor da infância: do leite com canela acompanhado do bolo da minha avó, das brincadeiras de adedanha em casa nos dias de chuva, das noites de festa americana com amigos nos finais de semana e dos dias depressivos da minha mãe. Cada momento foi marcado por um gênero musical, por um intérprete e ou banda. Já a música cantada passa a mensagem de forma mais eficiente, entretanto, penso que uma música cantada não pode ter arranjos complexos. Tal arranjo tem que ser simples para não chamar mais atenção que a voz. Sendo assim, a mensagem cantada que o intérprete quer transmitir terá maior atenção do ouvinte. E neste sentido, estou alinhado com uma das maiores escolas de artes do planeta, a Bauhaus, na Alemanha, que diz: ‘Menos é mais.’ Perfeito! Dito tudo isso, eu cheguei, de fato, na música, pelo meu desejo de cantar e dançar nos palcos e nos videoclipes, na tentativa de ser o primeiro artista brasileiro a fazer o que Michael Jackson e Madonna faziam na década de 1980. Que tolice! Mas eu acreditava que podia ser tão bom quanto eles. No entanto, na década de 1990, com a explosão de rádios comunitárias, eu, já trabalhando como ator, precisava ganhar dinheiro e me tornei locutor. Meu programa de rádio era repleto de músicas pops e remixes estendidos — músicas que eu adoro, a música eletrônica. Conquistei um público que adorava minhas sequências musicais e logo comecei a ganhar força, conquistando espaços cada vez melhores. Aí, tive acesso a equipamentos de grandes estúdios na época e, assim, era comum ver alguns disc jockeys (DJ) fazendo remixes de grandes sucessos. Eu ficava igual cachorro faminto parado de frente para a frangueira assando o alimento a ser vendido pelo restaurante. Nem piscava. Os caras se divertiam e eu pensava: quero fazer isso também. Mal sabia que estava entrando numa roubada. Devido a minha condição TDAH, Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, tive muita dificuldade para aprender teoria musical e juntar tais conhecimentos com a tecnologia e softwares de produção musical. Mas acho que consegui. Hoje, passados mais de vinte anos, eu posso dizer que desenvolvi meu próprio caminho para resolver as dificuldades e conquistei meu espaço. Não foi fácil, porém continuo me esforçando para continuar trilhando meu caminho de forma honesta e entregando o meu melhor. Sinto muito orgulho do ser humano e do artista que sou hoje. É ótimo poder me expressar no palco como ator e ou como músico, um privilégio para poucos.