DOCÊNCIA: PRISMA CRISTAL
“Não ensino meus alunos. Crio a condição para que aprendam.” (Albert Einstein)
Falar de professor é falar de educação. E a qualidade da educação estará diretamente ligada à qualidade do professor. Aliás, já se sabe disso desde a Antiguidade, pois, nas palavras de Sêneca, “a educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida”. Algumas análises de países de boa educação confirmam isso. Esqueçamos a lenda de que professores não se curvam perante o Imperador japonês. Todavia, entendamos a importância e admiração tidas pelos professores daquele país. O professor é denominado “sensei” (mestre), e sua seleção é muito rígida, pois se exige alta qualificação. Há a necessidade de obter-se um certificado após a conclusão de programas de formação de professores (faculdades juniores ou universidades). E o certificado de nível avançado requisita a titulação de mestrado. Os professores passam por rigorosas avaliações. Somente 30 a 40% conseguem trabalho em escolas públicas. Estão entre os funcionários públicos mais bem pagos e a maioria permanece na profissão até a aposentadoria, pois há uma carreira e um status. Na Alemanha, a estabilidade profissional e financeira são os atrativos para atuação na docência. Professores alemães (ensino secundário) recebem quase o dobro da média dos professores dos demais países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), algo equivalente a 4.500 euros mensais, o que pode ser sensivelmente acrescido com o tempo de experiência acumulado. Além de pagarem menos impostos e estarem livres de algumas contribuições, os docentes ainda são atraídos pelo emprego irrescindível e por vantagens financeiras para seus filhos. Na Finlândia, que hoje é um modelo de educação para o mundo, professores recebem com pequenas diferenças. dependendo do grau de docência, em média, cerca de 70% do valor do salário de um juiz ou 60% do de um deputado (lembrando que deputados finlandeses não ganham nababescamente como os brasileiros). Obter um mestrado é qualificação básica e obrigatória para o exercício da docência, mesmo na educação pré-escolar. Existe um rígido sistema de seleção no qual são aprovados apenas 10% dos candidatos. Como está a formação, qualificação e seleção dos professores no Brasil? Quantos buscam a profissão por menor carga de trabalho e menor tempo de trabalho para aposentadoria? Quantos estão qualificados, se mantêm atualizados, estão vocacionados e estimulados, …? Porém, a qualidade da educação também envolve o modelo de ensino. Enquanto encontramos modelos socráticos de ensino nos EUA, por exemplo, mantemos no Brasil o modelo polonês do século XVIII, que talvez justifique a frase de Kant: “É por isso que se mandam as crianças à escola: não tanto para que aprendam alguma coisa, mas para que se habituem a estar calmas e sentadas e a cumprir escrupulosamente o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que tenham de pôr em prática as suas ideias.”. Mas modelos modernos de ensino exigem profissionais de educação com qualificação. Modelos ruins importam em gastos econômicos sem retorno, e essa tem sido a dinâmica brasileira, conforme comparativo de gastos e resultados na educação brasileira com países da OECD. O outro aspecto importante está no quanto a educação é um vetor para o país, pois isso fará com que a qualidade dos professores, seus salários e os métodos educacionais estejam em favor da educação. A Coreia do Sul é um exemplo disso com sua aposta na educação pelos últimos 40 anos. Por isso, 35 anos atrás, os sul-coreanos eram mais pobres do que os brasileiros, sendo, hoje, 3 vezes mais ricos. O programa sul-coreano fez a universalização do ensino fundamental, após o que houve maciço investimento no secundário e terceiro grau (inclusive no exterior). Enquanto isso, no Brasil, um terço da população não finaliza o ensino fundamental. Aqui, os projetos governamentais para a educação ou são risíveis ou são uma farsa, aliás tal qual os Ministros da Educação que temos acompanhado no correr de quase todo o período republicano, ressalvadas raras exceções há algumas décadas atrás. A França teve Luc Ferry como Ministro da Educação, no Brasil melhor nem citar nomes. Se fizermos uma análise, a preocupação educacional no Brasil foi muito mais real e efetiva no Império. A educação pública acessível a todos vem com a Constituição de 1824, sendo adotado o Método Lancaster. Em 1826, o Imperador baixou uma lei prevendo quatro graus para instrução: Pedagogias, Liceus, Ginásios e Academias. Em 1837, foi criado, no Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II com a função de se tornar o modelo de ensino para o nível secundário em todo o país. Em 1854, foi inaugurado, no Rio de Janeiro, a instituição pioneira na educação especial para cegos da América Latina: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos (que veio a se tornar o Instituto Benjamin Constant). Da mesma forma, em 1857, foi fundado, no Rio de Janeiro, o Instituto Imperial de Surdos-Mudos (hoje denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos). Em 1889, sob a denominação de Imperial Colégio Militar surgiu o primeiro colégio militar, que serviu de modelo aos demais criados no país. A República parece ter tido o mérito de mudar o nome das instituições criadas no Império – pra hoje desaboná-las, bem como da criação das Universidades Públicas, que também hoje ela tenta destruir. Aqui, vale a pena entender que os Imperadores brasileiros tinham um nível educacional invejável: escreviam, compunham, tocavam instrumentos, dominavam idiomas, recitavam, … Pedro II, em especial, sempre dizia ter sido Imperador por fatores político-institucionais, mas que tinha mesmo por sonho ser mestre-escola, o que pode ser comprovado em uma prazerosa visita ao Museu Imperial, em Petrópolis. Ele apoiou escavações arqueológicas, que permitiram a criação do Museu Histórico Nacional – que a corrupta República brasileira deixou ser consumido pelo fogo; e desenvolvimentos científicos – de Graham Bell a Alfred Nobel. “Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.” (D. Pedro II) E sejamos justos, lembrando que Pedro I criou a Academia Imperial de Belas Artes, que gerou a Escola Nacional de Belas Artes e o Museu Nacional de Belas Artes. A República brasileira, inclusive, tem trabalhado, aparentemente, contra a educação: tivemos a destruição de livros e bibliotecas na ditadura; a negativa a projetos de alfabetização baseados no método Paulo Freire, por preconceito ideológico; a destruição de instituições de ensino por atos administrativos diversos; a desmoralização da atividade docente; … Mas, pouco se pode esperar, quando se tem na liderança do país pessoas que: quando professores, não valorizam os profissionais docentes; ou que julgam educação de pouca necessidade por terem chegado ao poder sem tê-la; ou que não conseguem sequer falar corretamente a língua pátria; ou que não conseguem concatenar ideias, entender e interpretar textos; …. Não há chance para a educação quando se busca divisionismo ou se prega o terror. Ao menos, um dia, nas terras brasilis, houve um dirigente que, com seu autointitulado espírito justiceiro, entendia que “o amor deveria seguir como graus de preferência: Deus, humanidade, pátria, família e indivíduo”. Talvez por isso tenha sido retirado do poder com a Proclamação da República. Mas uma coisa é inegável, não há educação sem amor, respeito e dedicação.
Autor: Fernando Sá
Autores citados: Albert Einstein, Sêneca, Immanuel Kant, Luc Ferry, Pedro II