Muitas vezes somos, aparentemente, uma pessoa, mas gostaríamos de ser outra, sem nem sabermos quem, realmente, somos. “O comportamento é um espelho em que cada um vê a sua própria imagem.” (Johann Goethe) Provavelmente, quem eu gostaria de ser e quem, aparentemente, sou são pessoas mais próximas. E, ao mesmo tempo, mais distintas de quem realmente sou. Grande parte da questão vem de toda a pressão familiar, social e profissional para sermos de uma forma. E ter essa forma importa em agradar, estar inserido, … zona de conforto. Muitas vezes, gostaríamos de ser assim mesmo, pois isto não exige maiores esforços de nos impormos, enfrentarmos a pressão, … nos vermos como nós somos. Há uma opção de não ser livre; aliás Freud explorou isso ensinando que “a maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade”. Mas, quando se gostaria de ser diferente, há um sofrimento nessa dicotomia de ser e não gostar de ser, pelo desejo do diferente. Como reverter isso? Certamente, estamos diante da necessidade do autoconhecimento. Não que eu não ache necessário o autoconhecimento mesmo para quem se amolda voluntariamente a ser o que esperam que seja. “O autoconhecimento é o começo da sabedoria, em cuja tranquilidade e silêncio encontra o imensurável.” (Jiddu Krishnamurti) Mas o autoconhecimento é o universo desconhecido, pois ele pode mostrar que você não é como se mostra nem como gostaria de ser, mas uma terceira forma de ser. E aí? Talvez pelo inusitado da consequência do autoconhecimento, ele gera tanta fobia. Será? E tudo isso pelo medo do julgamento alheio? As pessoas deixam de ser essência e viram forma. “Todos julgam segundo a aparência, ninguém segundo a essência.” (Friedrich Schiller). Quem se autoconhece se faz essência. Mas não nego que o autoconhecimento é um caminho longo, por vezes doloroso, desafiador, destrutivo e reconstrutivo,… mas, o que mais importa: ele é revelador. Você não precisa mais provar coisa alguma, ansiar por agradar a todos, viver de dúvidas, engolir frustrações, … O autoconhecimento também é libertador sobre outro ponto de vista, pois, como você se conhece e se respeita, você passa a respeitar e julgar menos o outro. Ele permite que você venha a focar mais em si e nas suas metas, o que afasta a fuga para o cuidado com a vida alheia. Nas palavras de Oscar Wilde: “Sou a única pessoa no mundo que eu realmente queria conhecer bem.”. O autoconhecimento também é fonte de empatia e compaixão, pois o outro passa a ser igual no sentido genérico de outra pessoa com suas próprias dores, felicidades, direitos e deveres. Mas se o autoconhecimento pode gerar tantos ganhos (melhora individual e coletiva), por que ele não é mais estimulado? Pois ele é conhecimento. O saber – o conhecimento – está longe de interessar a quem detém poder sobre a sociedade ou controle sobre uma pessoa, indivíduos ou grupo. Saber importa em pensar, que traz consigo o ato de questionar, ou seja, tudo que os dominadores não desejam pelo perigo ao poder que exercem. No ensinamento de Confúcio, “a essência do conhecimento consiste em aplicá-lo, uma vez possuído”. Por isso, se autoconheça, se reconheça, seja essência. A dica vem da Antiguidade, quando, no Portal do Oráculo de Delphos, estava inscrito: “Conhece-te a ti mesmo.”.