“A esperança é o sonho do homem acordado.” (Aristóteles)
Acordei com um sorriso no rosto e todo suado. Mas que sonho! Sonhei que estava em uma festa e dançava com todos os meus amigos até amanhecer. Juntos, colados e trocando abraços. Beijava todos com tesão e amor. Aglomerados e felizes, essa era a lei daquela noite. Corpos molhados se tocando sem preocupação. Logo que levantei caí na realidade. Um saudosismo tomou conta do meu osso e até arrepiei com a incerteza de quando poderia realizar aquele sonho novamente. Que saudade de aglomerar. Sentar no meio-fio com uma garrafa na mão e ver a banda passar. Sentir a jovialidade se movimentar de um lado para o outro. Levar um esbarrão sem saber se foi aleatório ou se foi uma paquera. Beijar! Na boca, no rosto, na testa. Não importa! Eu quero beijar, abraçar, tocar nas pessoas que eu gosto e quero bem. Sentir novamente o calor dos corpos. Nunca fui fã de ir a shows, mas só de raiva iria em um agora mesmo. Sentir meu corpo sendo levado na fila de entrada assim que os portões se abrirem. Ser sufocado por braços ao ar de um lado para o outro. Entraria na roda para pular de felicidade pelo contato do ombro a ombro. Quero sentir novamente o corpo coberto de areia na praia cheia aos sábados. Disputar uma onda e puxar assunto com um desconhecido que olhou minha mochila na areia. Marcar dois churrascos e uma social no mesmo dia e escolher depois qual irei realmente (coisa que só carioca faz). Ver um trio levar a multidão na orla de Ipanema, de preferência o da Preta Gil. Réveillon em Copacabana com todos os idiomas possíveis, passando por mim. Carnaval no Centro do Rio com os carros alegóricos na rua antes dos desfiles. Disputar lugar na fila para uma foto com os carnavalescos, mesmo sem saber o nome deles, e rir disso depois com os amigos em uma festinha qualquer. Quero voltar a ir às Festas Juninas nas praças das igrejas. Ver o sorriso das pessoas, os dentes, as gargalhadas… Voltar a reconhecer a fisionomia de quem passar por mim. Quero iniciar uma trilha sozinho e entrar nos grupos prontos e fazer amizades. Voltar para uma sala de aula cheia e trocar ideias. Sentar na praça e ver as crianças socializando sem os celulares na mão. Ah… Possibilidade ou uma utopia? Às vezes me pego tendo um pesadelo vendo que algumas dessas coisas estão acontecendo, normalmente, em meio a uma pandemia sem nenhuma responsabilidade com o social e coletivo. Mas quero sonhar de novo com a possibilidade de tudo voltar ao normal e aglomerar novamente sem nenhuma preocupação a não ser a de ser feliz!