REFLEXÃO PANDÊMICA
“A marca de sua ignorância é a profundidade da sua crença na injustiça e na tragédia.” (Richard Bach)
Já havia luzes de um Natal que se aproximava. E a China – produtora da maioria dos enfeites desta festa – estava em alerta. Frequentadores de um mercado atacadista de animais, na cidade de Wuhan, davam entrada no hospital com os primeiros casos do Coronavírus. E eu dizia: “- Deus os protejam e os livrem deste mal.” O Natal chegou, mas também os sinais da avassaladora pandemia eram anunciados. Não era o sinal da estrela de Belém, e sim de um vírus letal. E o ano de 2020 se iniciava, e eu já pedia a Deus para nos proteger também. O código genético divulgado pela OMS e o risco da pandemia mundial fechavam um janeiro anunciando meses subsequentes a serem difíceis para o mundo. Tão feliz acreditava na distância deste mundo, que eu imaginava muito além, mas não era. Chegavam os pandeiros, sambas-enredo, fantasias, máscaras, … e, em meio a toda esta festa, anunciava-se no dia 26 de fevereiro a confirmação do primeiro caso da doença, no Brasil. Mal se poderia imaginar que usaríamos máscaras e tanto médicos como enfermeiros pareceriam fantasiados de astronautas da Apolo 11 por longos e difíceis dias. Agora, eu pedia para Deus me proteger. No dia de meu aniversário – 2 de março, queria eu poder comemorar com os amigos a vida. Desta vez foi sem bolo, sem festa, sem aglomeração, … e, no noticiário, o Ministério da Saúde confirmava dois casos de contaminação pelo novo Coronavírus, e mais de 400 casos suspeitos sendo monitorados. E, assim, iniciava-se definitivamente o que viria a ser o caos sanitário que eu acreditei, outrora, estar tão distante. Bilhões já eram negociados entre o Ministério da Saúde e o Poder Legislativo, e nem imaginávamos a que ponto seguiriam estas negociações para o enfrentamento ao Coronavírus. Chegamos, aos dias de hoje, com uma CPI. E mesmo depois de todos os problemas sanitários, econômicos, sociais, a que nos submeteu este vírus, ele ainda nos surpreendeu com o pior, ou seja, o negacionismo irresponsável de parte de nossas autoridades. Mais uma vez nos faltou uma visão de estadista; como dizia John Kennedy, “a coragem da vida é uma magnífica mistura de triunfo e tragédia. O homem faz o que deve fazer apesar das consequências pessoais – apesar dos obstáculos, dos perigos e das pressões – esse é o fundamento de toda a moralidade.”. Quase 600 mil mortes e já é agosto de 2021. A vida dos seres humanos foi tratada com descaso por muitos e principalmente pelo poder público federal, mas muitos também foram à exaustão tentando salvar outras vidas. Mérito e demérito em um momento reflexivo sobre a existência e a resistência. Um momento de se pensar no próximo e em si mesmo com um cuidado mais que vital. Enquanto isso, as pessoas agem esquecendo e desrespeitando a dor alheia – zero empatia. Várias frustrações com esses seres negacionistas e suas faltas de cuidados consigo e com os próximos, enquanto o mundo enterrava milhares de mortos vítimas do vírus. Milhares de desesperados, que, além de perder seus entes queridos, também perdiam empregos e ou enfrentavam as novas mudanças em “home office”. Em meio a este caos total, pude refletir a importância de cada coisa que eu vivia, como meus valores, meus princípios, e aprendendo, neste insano momento, a reconhecer quem de fato acrescenta a estes valores e quem sempre tentou levar de mim o meu melhor. É estranho, confuso, pensar que em um momento tão difícil descobrimos seres humanos “desumanos”. E a mente tresloucada neste momento nos faz questionar o que é ser feliz. Será que realmente sabemos o quanto somos felizes??? Quais são nossos medos enquanto o mundo chora a mesma dor??? Egoísmo ou solidariedade, o que existe mais??? Tudo dependerá única e exclusivamente da sua verdadeira essência. E a resposta a tudo isso está no nosso autoconhecimento, e, por incrível que pareça, que momento maravilhoso para se autoconhecer. Sim, só nos conhecemos quando aceitamos conhecer o próximo e suas necessidades, mesmo porque, muitas vezes, somos o próximo da vez, transpondo assim nossas limitações do ego. E vamos aprendendo, e reaprendendo com todo este mal. Não precisamos de nada além do necessário e não do supérfluo. E o que realmente importa, nestes tempos vividos e ainda por vir, é e será sempre o mais importante para o mundo: o amor e o cuidado ao menos favorecido. Não se trata de cuidar só economicamente, mas também emocionalmente e espiritualmente. Tempos difíceis…crise, inflação, fome, falta de moradia… E nós? Onde nos colocamos??? Como nos colocamos diante de tantas necessidades??? Reflexão sobre tudo isso é necessária. Sei que, desde o Natal de 2019, fico pensando que o mar e a tempestade são os mesmos, mas as embarcações têm sido bastante diferentes. A vacinação chegou, depois de tanta confusão, e mostrou porque teria que ter sido antecipada, mostrando, nos gráficos diários, sua eficiência e contrariando, assim, irresponsáveis políticos e burocratas negacionistas. Bem dizia Quintana: “Não, a pior tragédia não é a que tomba inesperada, rápida, definitiva e única como um raio e que pode ser atribuída a castigo divino… Mas a que se arrasta quotidianamente, surdamente, monótona como chuva miudinha.”. E chegou setembro de 2021 – logo ali adiante o ano de 2022 está tão próximo quanto o próximo passado negado e renegado. E eu me pergunto: “-INDEPENDÊNCIA OU MORTE?”
Autor: Waldir José Machado
Autores citados: Richard Bach, John F Kennedy, Mário Quintana
Foto: flickr.com
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