No constrangimento emocionado da sonoridade de Bethânia,
Me percebo lendo trechos de Platão, para então me hipnotizar,
Na música estonteante de Fall Out Boy (FOB), sonhando com uma tarde em Chicago.
Pois eu saio da tela de Caravaggio para ser um elemento cubista de Picasso,
Em um movimento surreal e guiado pelo toureiro de Dali,
Quando só quero me banhar em Giverny com as ninféias de Monet.
São meus acordes preferidos de Bach, pelas linhas robustas de Camus,
Que me levam ao desespero de Van Gogh, onde Genet e Pasolini são só poesia,
Pelas ruas sombrias e alegres de Amsterdam.
Já não há certo ou errado, só arte!
Amo sem preconceito o clássico e o marginal,
Pois tudo é aprendizado e sentimento, tudo é pensar,
Ingmar, Godard, Lelouch e Renoir, na busca da beleza de Sofia e Bardot,
Pelos jardins de Rodin, no amanhecer de Paris.
Não me basta o beijo tímido não trocado de Ingrid e Humphrey,
Pois quero a violência da manteiga de Bertolucci, no tango sem fim,
Que seja em São Francisco ou Roma, mas de preferência em New Orleans,
De uma vida sem começo, onde ânsia e anseio são a mesma coisa.
Essas asas enormes que campeiam meu cérebro, como a muralha de Brugges,
Fizeram com que me fosse permitido voar, no tempo e no espaço,
No quântico que nem há. Todavia, esvoejo na forma mais violenta,
Como o vento insano entre partituras, estantes, pinacotecas, palcos, …,
Já não me importam lugares. Tudo voa comigo e nada mais terá lugar.
Batendo cabeça com Foo Fighters, em pleno ballet do Stomp, que,
Ao assovio de Callas, se torna uma das bailarinas de Degas.
E se Nietzsche me ludibria, com Epicteto me solto,
Mas sorvo Jim Morrison como se fosse um xamânico estóico,
pelas calçadas sonoras de Viena, ouvindo Mozart e mordendo um schnitzel.
Sim! Sim, sou o contraditório, o díspare que traz unidade,
A perda que é encontro, no desespero de quem tem paz.
Se Lennon se fez hino, Cássia se fez brado,
eu recorro a Tim Maia no caminho do bar,
Seja a cervejaria de Köeln seja o Sujinho da Consolação,
Pois na Paulicéia desvairada quero Mário, Oswald, Tarsila e o vão.
E eis que a lugar nenhum pertenço, assim como nada me contem,
Só Clarice me consumiu para meu bem.
Sigo na busca desencadeada como Sêneca na tentativa da morte determinada,
Mas, minha gana, minha gula e minha tara estão naquilo que foi pensado,
escrito, cantado, pintado, dançado, filmado, entoado, …
Ou naquilo que foi naturalmente produzido…
como as flores do meu jardim, no café da manhã,
de olhos perdidos na Pedra da Gávea.
Um livro de Ferry ou Pondé na mão!
Autoria: Fernando Sá
Foto: flickr.com
Niccolò Ubalducci
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