“A leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpo.” (Joseph Addison)
Quando eu era criança, minha mãe trabalhava como doméstica na casa de uma professora de Português. Eu era tratado como se fosse realmente da família dela. Quando fiz 6 anos fui colocado em uma explicadora, por essa patroa da minha mãe, que me ensinou a ler e a escrever. Logo que aprendi as letras, comecei a ficar maravilhado pela estante de livros daquela casa. Aos 7, idade de entrar na escola, fui parar em uma turma do pré-escolar. A professora ficava pedindo para desenhar e brincar de massinha. Um dia cheguei em casa, depois da aula, e reclamei com a minha mãe que não queria ficar fazendo aquilo e ela me disse “Amanhã, ao invés de desenhar, escreva o que você sabe naquela folha.” Não deu outra! Logo ela foi chamada na escola para me trocar de ano e comecei a cursar o 1° ano do primário (sim, não parece, mas eu sou dessa época). Cada vez que ia ficando mais avançado na leitura, ficava mais fascinado com os livros daquela estante. Quando a patroa da minha mãe percebeu, meus olhos brilhantes em cima dos livros dela, me ofereceu um deles para eu ler: O pequeno príncipe. Ah, como eu fiquei feliz! Logo que terminei, ela trocou aquele por Fernão Capelo Gaivota. Nossa! Voei com aquele livro. A partir daí, cada vez que terminava uma leitura, podia escolher outro exemplar. Iniciou-se um vício. Minha mesada era gasta na banca de jornal com os mais variados gibis. Passei a ler o jornal, revistas e até os panfletos nas ruas. Não queria me curar desse desejo incontrolável. Cheguei ao ponto de ler 5 livros ao mesmo tempo para não enjoar de nenhum. Como presentes de aniversário, sempre que podia, pedia livros. Como sou filho único, a leitura era sempre meu refúgio. Quase não tinha com quem brincar. Acabava brincando e fantasiando com as personagens das histórias que lia. Hoje, agradeço imensamente a percepção e o cuidado daquela professora, patroa da minha mãe, que me encaminhou para a estrada da leitura. Desenvolvi um senso crítico, um melhor olhar para as diversas possibilidades da vida e uma afeição ao conhecimento. Me considero uma pessoa culta para o meu padrão de vida simples. Estimulo todos que conheço a esse hábito. Hoje tenho um amigo que compartilha da mesma paixão e que sempre me surpreende com um bom livro. Toda vez que posso doo os livros que não irei mais precisar. E como todo viciado em leitura, tenho mais livros para ler do que dou conta e quero sempre mais. Carlos Drummond de Andrade tinha razão quando dizia: “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas, por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede.” Eu me sinto um insaciável dessa fonte e faço minhas as palavras de Ruth Rocha: “Leitura, antes de mais nada é estímulo, é exemplo.”. E se você está lendo esse texto, provavelmente sofre do mesmo mal.